Acho que um dos melhores lugares que já vi para sentir a grandiosidade do planeta e nossa insignificância diante dele é o deserto.
Quando descia a serra de Big Bear Lake em direção a Barstow, ainda na Califórnia, e tive uma visão panorâmica e do alto da montanha, confesso que deu até um certo medo.
Medo talvez não seja a palavra certa.
Respeito é mais adequado.
Já estive no Deserto do Saara, mas o vi de dentro de uma van com ar condicionado acompanhando de um monte de gente, o que é bem diferente.
Parado ao lado de uma moto, sozinho, ainda que por minutos, no meio do Deserto do Mojave é uma experiência quase mística que recomendo a todos.
É vc. e o nada ( ou o tudo...), que se faz sentir através de um contundente silêncio.
Uma tarde tivemos de fazer um trecho de umas 100 milhas numa tocada direta.
Velocidade entre 70 e 90 mph; estradinha de mão dupla com faixas adicionais em várias subidas.
Alfalto perfeito e cenário de filme de bang bang desfilando pela viseira do capacete.
Enrolo o cabo do acelerador e fico á frente do pelotão por uns 30 minutos, sem ver ninguém atrás.
De repente vejo pelo retrovisor umas luzinhas que rapidamente crescem e me ultrapassam.
Uma Electra e uma Road King, ambas do grupo, ambas com garupa.
As persigo indo a 80/90 mph.
Parada no posto de gasolina combinado, junto à entrada da cidade, a noite já caindo e deixando apenas uma tênue luz vermelha no horizonte.
Vejo a expressão no rosto de meus companheiros de viagem tirando o capacete: felicidade pura; todos com cara de criança que acaba de ganhar presente no dia de Natal.
Foi certamente um dos momentos mais legais da viagem.
Las Vegas é, sem favor algum, a "Cidade do Pecado".
Prostitutas em cada metro quadrado.
Mexicanos aos montes na Strip distribuindo "santinhos" contendo fotos de moçoilas despudoradas prometendo que chegam ao quarto no hotel em meros 20 minutos após convocadas.
Nos cassinos, principalmente juntos aos balcões dos bares, é grande a concentração das "damas da noite" em trabalho ininterrupto de caça à clientela.
Uma coisa que pode decepcionar quem vai aos EUA e visita as H-D é o estoque que os caras mantém nas lojas.
Visitei várias e várias lojas e não achei o reloginho de horas para colocar junto ao burrinho do freio.
Visitei as seguintes H-Ds:
L.A - Bartels´s em Marina Del Rey ( atendimento frio e distante);
L.A - Laidlaw em San Bernardino ( atendimento legal);
H-D de Kingman (atendimento legal)- Arizona;
H-D de Las Vegas, a segunda maior do mundo depois da de Daytona, na loja full ( pessoal muito legal) e na Motorclothes do próprio hotel ( pessoal mais ou menos).
Procurei, sozinho e a pé a H-D de Williams, também no Arizona, mas não achei...
Mesmo nas Motorclothes a oferta de jaquetas etc. é limitada.
O engraçado é que cheguei a ver jaquetas 5 XL, isso mesmo: extra-extra-extra-extra-extra-large...
Havia saído da Rota 66 e rodava a caminho da cidade de Laughlin, Estado de Nevada, que fica ao sul de Las Vegas, debruçada sobre o Rio Colorado.
Na outra margem do rio já é o Estado do Arizona.
Segundo foi informado, essa cidade, que é uma Las Vegas miniatura, foi fundada por um cara cujo cassino havia sido expulso de Las Vegas pela máfia.
De onde estava, a chegada a Laughlin é sensacional, pois é feita por uma auto-estrada em descida, com duas ou três faixas em cada sentido, pavimentada com o asfalto mais negro e perfeito que eu já vi.
De frente para aquela belezura, o povo enrolou o cabo do acelerador e saiu feito louco.
Comecei a fazer isso e notei que aquele amigo meu, com pouca rodagem em estrada, foi ficando para trás até sumir no retrovisor.
Reduzi a marcha para esperá-lo.
Nada dele aparecer.
Parei a moto no acostamento e fiquei esperando.
O povo que ia à minha frente tinha desaparecido.
Depois de uns 2 minutos vejo a moto do amigo retardatário chegando.
Ligo o motor e prossigo andando bem próximo a ele, que prosseguiu em ritmo suave.
Rodo mais umas 5/6 milhas e vejo o resto da tropa nos esperando junto ao trevo de acesso da cidade.
Após estacionar a moto na garagem do hotel, esse amigo confessa que ficou com muito medo, pois a estrada era enorme, a paisagem dramática, os caminhões muito grandes e velozes, o vento intenso e as curvas intimadoras.
Eu e o resto do povo achamos a estrada uma maravilha na terra.
A mesma estrada, o mesmo dia, a mesma hora, as mesmas motos e duas percepções opostas e excludentes entre si.
Dez horas de viagem espremido na classe econômica, 2 horas a menos de fuso horário e um oficial de imigração pela frente no aeroporto Dallas/Fort Worth.
Para piorar, pego a fila preferencialmente destinada a deficientes físicos, que não param de chegar com suas cadeiras de rodas.
Todos os meus companheiros de viagem, que ficaram de frente para outros guichês, já passaram.
Continuo postado "behind the yellow line".
Chega minha vez.
As perguntas de praxe: quanto tempo pretendo ficar, qual a minha ocupação, se vim para negócios ou congressos etc.
Resolvo encurtar: - Vim andar de H-D na Route 66.
Sorriso ( ou um rascunho de sorriso, que é o máximo que um oficial de imigração, às 5:50 a.m. consegue...) seguido de um sincero Ooohhhh!!!! e imediato carimbo de admissão.
O atendente, por sinal o gerente da loja, enquanto preenche a papelada do seguro resolve falar de futebol ( ele é salvadorenho ) e afirma ser torcedor da seleção brasileira.
Fala de Pelé, Gerson, Rivelino, Ronaldo, Jairzinho etc.
Falamos um tanto de futebol e ele cada vez mais receptivo porque visivelmente gosta do assunto.
Termina de preencher a papelada, eu a assino e ele, meio que escondido, me dá um PIN da loja de brinde.
caro amigo,você sem saber levou um penetra ,pois eu literalmente viajei com você através de seus relatos,meu grande sonho sempre foi fazer esta viagem,sou fâ incondicional do velho oeste americano com seus filmes ,indios , cowboys,e a rota 66,mas esta viagem real certamente ficará pra proxima geração,pois nem juntando meu parco dinheirinho por muitos anos não daria pra custear a viagem.
agumas curiosidades:
quanto gastou em reais entre a saida e chegada ao brasil?
a habilitação brasileira vale pra la?
é facil alugar moto?
se quiser ir sem guia pra ficar vagabundando sem dia pra voltar pode?
mesmo sabendo que nunca irei tenho esta curiosidade
Ontem estava inspirado para escrever, após ler todos os posts!
Mas como o fórum tevem algum problema técnico, tive que ficar só na leitura mesmo, mas hoje aproveito para agradecer por compartilhar esta experiência com a família Motonline!
Cara, que loucura essa sua viagem. tenho certeza de que como eu, muitos que leram um pouco do seu relato se imaginaram sentado numa HD rodando onde vc rodou tb.
parabéns, e um dia com certeza, será minha vez de postar!