PAGE, AZ – KANAB – UT
Café da manhã tomado, carro carregado, motos ligadas, inicia-se um novo dia de viagem.
A primeira etapa a ser cumprida é tão curta que, na verdade, dá para ver o destino do próprio estacionamento do hotel.
Vamos seguir até a Represa Powell, que uma das três ou quatro que foram feitas no Rio Colorado aproveitando que o leito deste situa-se em profundo canyon que favorece a construção de usinas.
A represa é muito parecida com sua irmã mais famosa, a Hoover.
A altura é estonteante e a ponte sobre o canyon é guarnecida de altas cercas de arame, certamente objetivando impedir que algum desgostoso dê cabo da vida naquele lugar.
Fotos tiradas e interjeições de espanto pronunciadas, montamos nas motos, atravessamos a ponte, fazemos o retorno no local apropriado e retornamos o caminho que fora feito pouco antes.
Passamos em frente ao Hotel e novamente pegamos a Rodovia 89, que fora percorrida na tarde da véspera, só desta vez no sentido contrário.
Após umas 20 milhas ( 32 kms) pegamos a 89-A em direção norte e seguimos umas poucas milhas até chegarmos ao Marble Canyon.
Altura imensa, duas pontes em homenagem aos índios Navajo e uma feirinha de artesanato indígena.
Venta de forma absurda.
Tão absurda que alguns barcos que tentam descer o Rio Colorado não conseguem, pois o vento os empurra correnteza acima...
Após mais fotos e interjeições de espanto, cruzamos o Colorado e paramos em um trading post para abastecer.
O vento é tão forte que chega a provocar uma pequena "tempestade de areia" cobre minha moto e a mim mesmo com uma camada de terra bem no momento em que estou parado no posto de gasolina esperando meus companheiros de viagem reabastecerem suas motos.
Me limpo, ligo a moto e saio.
O roteiro prevê que a próxima parada seja no Estado do Utah, num lugar chamado Lago Jacó ( Jacob Lake, heheheheheh).
A paisagem é magnífica, pois à minha direita se situa o Vermilion Cliffs Monument, que é uma seqüência de chapadões vermelhos do tipo que povoam os filmes de faroeste.
Sigo bem rápido aproveitando que o vento deu uma parada o terreno é totalmente plano e com poucas e suaves curvas.
Empreendo uma "perseguição" ao Celso, que saíra uns minutos antes.
Ultrapasso-o andando a umas 90 mph ( 145 km/h) e lentamente vou abrindo distância dele e dos meus demais companheiros de viagem.
O asfalto perfeito, a paisagem, a topografia e as curvas suaves convidam à velocidade.
O tráfego de automóveis é reduzidíssimo.
Distraio-me um pouco contemplando a paisagem e o Celso volta a encher meus espelhos retrovisores, ultrapassando-me logo em seguida.
Prossigo na brincadeira e acelero prá valer, passando meu amigo de novo .
Começa uma seqüência mais forte de curvas, o Celso fica prá trás e eu quase que me perco numa curva mais acentuada.
O susto me faz fechar o acelerador e prossiguir com mais cautela, a estrada sobe e sobe serpenteando a encosta do platô.
Não vejo sinal de meus companheiros, reduzo ainda mais a velocidade e logo a serra termina e a estrada ingressa num bosque de Pinheiros muito bonito.
O frio começa a se tornar desconfortável.
Sigo meio que preocupado em ter perdido alguma entrada mais escondida.
Quando estou quase a ponto de retornar vejo uma placa indicando Jacob Lake adiante.
O frio está brabo.
Brabo mesmo!!
Encosto a moto no amplo estacionamento do Jacob Lake Inn.
Lugar muito bonito, rodeado de enormes pinheiros.
A fumaça que sai da chaminé indica que lá dentro há uma lareira acesa.
Estou com frio.
Muito frio.
Um companheiro de viagem, o Luís, chega com sua H-D penteadeira. Um americano muito simpático chega até nós.
Ele é do Hog de Page e tem duas H-D, mas está de picape e agradece o fato, pois não tem que encarar o frio.
Chega o resto de nossa tropa
O Carlos diz que o termômetro da Expedition indica temperatura de 4º C.
Almoçamos no restaurante do Jacob Lake Inn.
Conhecemos Rachel, uma simpática garota de uns 20 anos de idade.
Ela veio eufórica conversar conosco quando soube de onde éramos, pois já morou no Brasil, e num português com forte sotaque yankee nos informa que ficou um ano e meio em Belém do Pará (!) mas chegou a conhecer S.Paulo e tem um irmão morando em Curitiba.
Certamente tudo isso em função de ser da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, cujo integrantes são conhecidos por "mórmons" e têm sua sede no Utah.
Saímos do Jacob Lake Inn e tornamos e encarar o frio.
Agora vamos descer até nosso destino de hoje, a cidade Kanab.
O frio não diminui mas pelo menos não aumenta.
Estrada agradável com algumas curvas e paisagem suave, os pinheiros dando lugar a pradarias.
Vejo a placa diante indicando a cidade de Fredonia e lembro das palavras do Carlos: cuidado em Fredônia, pois o Xerife fica esperando que um incauto passe mais rápido do que deve. Passe devagar e acene.
Começo a rir, pois o tal do Xerife está lá mesmo.
Passo devagar e aceno sem obter resposta.
Fredonia é uma cidade "de primeira" e poucas milhas adiante chego a Kanab.
Kanab é uma cidade que serviu de locação para dezenas e dezenas de filmes de faroeste e possui até um museuzinho dedicado ao tema.
Instalamo-nos no hotel e, olhando para fora, por volta das 17:00 horas, noto uma coisa.
Chamo meus companheiros de viagem para fora do hotel: está.... NEVANDO!!!!
Brinco um pouquinho com a neve rala que cai e rapidamente resolvo entrar, pois está muito frio.
Depois de irmos ao museu do faroeste de visitar uma grande ‘lodjinha" dedicada ao tema, vamos jantar por volta das 18:30 antes que a cidade inteira feche.
Pela primeira vez, o jantar é regado a ... refrigerante.
Os mórmons, definitivamente, não gostam de bebida alcoólica.
Volto ao hotel .
O frio está de rachar e fico a perguntar como será o dia seguinte...
Jacob Lake c/ motociclista americano
a caminho de Utah
idem.
Abç
JF
JF-HD/FAT40287,7005787037