A diabrete não durou muito, a mãe desse meu amigo logo vendeu a bendita.
Quando fiz treze anos resolvi fazer boxe, mas não tinha dinheiro, então me ofereci para ajudar no que fosse possível e em troca me ensinariam boxe, no início meu professor não botou muita fé acho que ele não pensou que eu realmente daria o sangue para fazer algo que eu queria fazer. Ele estava enganado, para sorte dele e para a minha, ficamos bons amigos e ambos ganhamos, eu aprendi boxe e ele ganhou um marketeiro de mão cheia.
Levei toda molecada do condômino para fazer aula lá!
Estudava pela manhã, trabalhava na banca a tarde e a noite fazia boxe e ajudava na academia, esse professor tinha uma CB500 e as vezes ele me deixava dar umas voltas e até ajudar a limpar e lubrificar.
Quando tinha 15 anos meu pai apareceu em casa quando eu estava no colégio, porém naquele dia eu não tive as duas últimas aulas e voltei mais cedo para casa, quando cheguei na porta escutei ele gritando com minha mãe, naquele momento eu não tive duvidas, abri a porta... eu devia estar com aquela cara de quem vai matar alguém sabe? Pois quando ele olhou para mim chegou a gaguejar... perguntei o que estava acontecendo e minha mãe disse que meu pai queria a metade dele no apartamento para comprar um barco.... UM BARCO!!!
Naquele momento todas as lembranças, todas as angustias se transformaram numa raiva incomensurável, mas por algum motivo lembrei-me da minha mãe me dizendo que sempre se deve “honrar pai e mãe” independente de como esses fossem.
Olhei nos olhos dele e juro... já tinha um alvo bem no meio do nariz, mas não agi contra ele.. pela segunda vez o expulsei de casa e lhe disse que a próxima vez se ele quisesse discutir qualquer coisa seria comigo e que se eu sonhasse que ele voltou a falar assim com minha mãe ele teria que usar dentadura mais cedo. Fechei a porta na cara dele e a partir daí as coisas começaram a melhorar.
Logo depois minha mãe arrumou um bom emprego em uma empresa que a valorizava e meu pai foi obrigado a pagar pensão.
Na minha vida eu sempre gostei de três coisas: MULHER, MOTOS e AVIÕES !
Sinceramente não sei o que as mulheres viam em mim, mas sempre tive muita sorte com elas, eu era rockeiro, andava todo largado e rasgado, não tinha um puto no bolso mas vivia com mulher. Talvez fosse tudo que minha mãe me dizia sobre as garotas, dizia que eu tinha de ser cavalheiro, tratar bem, ser honesto por mais dura que fosse a verdade. Com quinze anos tive minha primeira relação sexual, se é que podia chamar aquilo de primeira vez, eu estava muito nervoso e queria muito que tudo desse certo... no final acho que ela gostou pq não saia do meu pé !
Muitos conhecidos e amigos me emprestavam suas motos para andar no condomínio, eu sabia que não eram minhas, mas pelo menos podia sonhar e imaginar que um dia teria a minha. Em quanto isso eles azaravam as garotas que andavam comigo.
Quando fiz 16 anos meu pai já estava com a sua nova esposa e teve um filho, meu irmão, passei a ter mais contato com meu pai graças a essa nova criança. Passei a ir para a casa do meu pai pelo menos duas vezes ao ano, ficava 99% do tempo com meu irmão e não dava a mínima atenção para meu pai.
Quando completei 18 anos estava louco para ser pego pela a aeronáutica ou passar a fase do alistamento militar, queria um emprego com carteira assinada, mas isso foi barra, era necessário experiência e não bastava dizer que eu era esforçado e blá blá blá...
Foi então que de saco cheio de fazer entrevistas fui até as lojas Pernambucanas, falei com a entrevistadora sobre quem eu era e o que desejava, queria uma chance, apenas uma chance para provar meu valor e minha competência... ela acreditou em mim !
Essa empresa foi a primeira que me realmente me deu uma oportunidade, fiquei pouco tempo, pois logo surgiram novas propostas e mudei de emprego.
Recebi a proposta de uma multinacional americana, trabalhar num Call Center no atendimento ao cliente, em seis meses já dava treinamento para os novos atendentes, em um ano fiz uma seleção interna e passei para a área de ingresso de negócios, um ano depois de outro processo fui para análise financeira e por fim fui convidado para a área de suporte a negócios, que auxiliava as áreas de ingressos de negócios, financeira e área comercial. Permaneci nessa empresa por oito anos, o salário não era muito bom mas eu amava o que eu fazia, e graças a esse salário paguei minha faculdade e adquiri minha motocicleta, uma FANzinha preta.
Motóca doida, pirava com ela, ia pra praia, rodava SP todinha !!!
Nessa época também conheci minha esposa.... na faculdade.
Quando completei 25 anos, meu pai passou a se aproximar mais de mim, eu o mantinha a distância, mas minha namorada (minha atual esposa) me fez uma pergunta que me fez pensar... o que você tem a perder em aproximar-se do seu pai?
Além disso, tinha meu irmão, que é a minha cara cuspido e escarrado, o muleke é minha cópia mais nova em tudo e que amo muito... oh muleke doido!!!
Então chamei meu pai para uma conversa e resolvi falar tudo que estava “entalado”, tudo que passei, tudo que vivi todas as coisas que ele fez, deixou de fazer e tudo mais. Ele me pediu desculpas e disse que o passado ele não podia mudar, mas que dali para frente ele seria outra pessoa. Naquele momento pensei que era a chance da vingança sabe? O momento de pisar.... de ser cruel... mas não consegui, eu não sou assim, sou um cara maluko mas não tenho ódio e raiva dentro de mim....
Putz é difícil escrever isso sem me emocionar...
Olhei nos olhos do meu pai e dei um grande abraço nele, um abraço longo e cheio de sentimento, algo que eu nunca tinha feito sabe? Choramos juntos...
