Sempre achei engraçada essa palavra, "revisitando".
Esse é o conjunto filtro de ar/tubo condutor/carburador da Suzuki Yes 125, e também da Intruder 125. Montado praticamente como ele estaria na moto.
Devido a sabe-se lá que razão, o carburador fica no lado direito da moto, e o filtro de ar no lado esquerdo, sendo necessário o uso desse tubo enviezado entre os dois. Claro que se o filtro fosse do lado direito, nada disto estaria sendo escrito. Porque todo o conjunto iria funcionar quase à perfeição.
Esses ângulos, essas curvas que o tubo tem, não são nada produtivos. Devido a um efeito aerodinâmico e ao pequeno espaço, eles vão interferir no trabalho do carburador, fazendo-o entregar uma mistura ar/gasolina rica demais, para o motor.
mais uma olhadinha no formato...
Dentro da caixa do filtro há uma tela, que retirei para que pudesse fazer as minhas experiências, e mostrar como isso é, por dentro. O círculo mostra onde está o carburador, e um pouco do perfil do tubo. Os filetes brancos qua aparecerão são apenas tiras de papel branco, grudados com durex, apenas para que possamos observar um pouco de como é o perfil interno do tubo condutor.
Aqui, o restritor do filtro, que está emendado apenas para podermos ter uma noção de até onde ele vai, dentro da caixa do filtro. A linha amarela é apenas um esboço do trajeto que o fluxo de ar fará, rumo ao motor, sendo puxado para lá. É preciso reforçar a idéia de que o ar não entra pressurizado ou soprado, ele está sendo puxado (aspirado) pelo motor.
O meu restritor já serrado, e o esboço do novo trajeto do fluxo de ar. Essa mudança produz diferença (para melhor), porque altera o ângulo em que o fluxo de ar vai chegar no tubo condutor. Observe que em relação ao original, o fluxo terá as duas primeiras mudanças de direção suavizadas: logo na saída do restritor (faz uma curva à esquerda, na ponta dele), e na primeira curva à direita, que ele tem que fazer em direção à entrada do carburador. É específicamente essa parte do tubo que provoca a perda de eficiência do fluxo de ar, fazendo com que um dos circuitos do carburador tenha dificuldade para captar o ar necessário para fazer a mistura com a gasolina, na proporção certa.
Uma vista de frente com a entrada do carburador, ele está bem alinhado com a lente da máquina. Esse tubo, deveria ser o mais reto possível.
Nas próximas fotos, coloquei aquele papel grudado na parte interna do tubo, apenas para que seja possível perceber melhor o perfil interno dele, por onde o ar fica constantemente passando.
um pouco do perfil
outro ângulo
e outro ângulo
só mais esse
A entrada do carburador. Dentro, pode-se ver o pistonete na posição de repouso. Na parte de baixo desta foto, podemos ver a bóia (as duas partes pretas) e a agulha da bóia (bem no meio do tubinho horizontal, por cima). E no ponto mais para baixo, está o giclê principal de gasolina, ou da "alta", fixado no "difusor".
Numeradas, estão as 3 tomadas para os giclês
DE AR: da "baixa" (1), da "alta" (2), e do afogador (3).
"Giclês" são calibradores. Geralmente são peças com orifícios de diâmetro preciso, cada um calculado para controlar a passagem de um dos dois flúidos que devem ser misturados num carburador: o ar, e, no nosso caso, a gasolina.
No caso destas tomadas de ar, na 1 e na 2 há um giclê de latão inserido em cada uma delas (na 2, ele está visível).
Aqui aproveito para lembrar que toda essa parte de baixo do carburador fica mergulhada na gasolina, com o nível controlado constantemente pela bóia, devendo ficar 5 mm abaixo dessa base do carburador.
"labirintos"... nas próximas fotos vamos seguir os caminhos do ar, pelos circuitos do carburador. Começando pelo 1. Ele começa à esquerda nessa foto, e é possível identificar por onde essa pequena tubulação corre, através dos pontos apontados pelas setas amarelas. A seta vermelha mostra o giclê piloto. É ele o principal prejudicado pela falta de ar.
"passagens"... naquele giclê piloto, a gasolina é misturada ao ar. A seguir essa mistura tem dois caminhos possíveis: a saída piloto, e a saída da marcha-lenta, cuja ligação está apontada pela seta amarela. A seta vermelha aponta para o parafuso da mistura da marcha-lenta. Em têrmos de "circuito", essas duas saídas são a outra ponta do circuito da "baixa", são o final dele. Talvez pudéssemos chamar de início, já que a aspiração através desse circuito começa nesse ponto.
"caminhos"... agora vamos para a tomada 2. Esse circuito é curto. É praticamente uma linha direta para o alojamento do difusor. É nele que se forma a mistura da alta.
Dentro desse alojamento (à esquerda da seta) está o difusor, também chamado de tubo misturador. Na ponta de baixo dele está o giclê principal, da alta. E na ponta de cima está a saída da mistura, com a agulha do pistonete se movimentando por dentro dela.
"circuitos"... vamos pela tomada de ar 3. É o circuito do afogador.
Quando acionado, o ar flui pela tomada de ar (tubulação apontada pela seta amarela), chega à válvula, que nada mais é do que um pequeno êmbolo que abre uma passagem para uma quantidade maior de ar e gasolina (onde está o quadrado...). Nela, a gasolina se mistura ao ar, e vai para o motor.
A seta vermelha maior, mostra o giclê de partida, que também fica mergulhado na gasolina, e a menor mostra o caminho que ela faz até chegar na válvula do afogador.
Este é o difusor. Também é chamado de tubo misturador. É nele que se inicia a pulverização da gasolina, no circuito da alta. A partir de uma certa abertura do acelerador, a ação do ar sendo admitido começa a criar uma borbulhação dentro desse tubo, que é puxada para cima e se mistura ao ar, que está passando em grande velocidade.
O giclê piloto. É o responsável pela mistura que faz o motor funcionar, desde a marcha-lenta até qualquer rotação que ele alcance, usando-se até aproximadamente 1/3 de acelerador ou pouco mais. Reforçando que estas peças ficam mergulhadas na gasolina da cuba.
Esta foto foi tirada de cima do carburador, onde entra o cabo do acelerador, e é onde fica o pistonete com a agulha. O círculo mostra a saída piloto, ou saída do giclê da baixa (o da última foto).
Com o acelerador aberto até aproximadamente 1/3 do curso possível, é essa a saída mais atuante, e é a mais afetada pela interferência do tubo condutor de ar. Com o acelerador a até essa abertura, a depressão (ou vácuo) produzida pelo motor, faz uma sucção nesse orifício. Como o giclê está mergulhado na gasolina, mas também está conectado a uma entrada de ar, o resultado dessa sucção é a mistura, pulverizada, da gasolina com esse ar...
Ao lado dela, está a saída do difusor (penúltima foto), por onde entra a agulha, que pelo fato de ser cônica, varia a abertura disponível para a saída da gasolina. A partir daquele 1/3 de abertura, aproximadamente, já começa a haver vazão de ar suficiente para provocar sucção e puxar a gasolina "borbulhada", misturando-a a esse ar sendo admitido.
As duas saidas da baixa. No círculo vermelho, a saída do giclê piloto, vista por outro ângulo. Na segunda foto adiante, ela fica escondida pelo pistonete, que está na posição de marcha-lenta (acelerador totalmente solto).
O círculo amarelo mostra a saída da marcha-lenta. Quando se fala naquele parafuso da mistura ("ah, tem que regular a mistura..."), é dessa saída que estão falando. A mistura que sai nesse ponto atua apenas durante a marcha-lenta, e nos momentos iniciais da abertura do acelerador. Se apertar o parafuso da mistura até o fim, vai aparecer a ponta dele nesse orifício... meio milímetro aproximadamente.
Aqui um detalhe: em outros carburadores, se esse parafuso da mistura estiver posicionado num ponto do circuito,
antes do giclê piloto, então ele será realmente o
parafuso do ar, porque nesse caso ele estará regulando a passagem desse ar em direção ao giclê, e não regulando a passagem de mistura já previamente iniciada, como é neste carburador e no BS26, da Intruder.
Aqui o pistonete e agulha levantados aproximadamente 2/3 do acelerador. Durante o uso normal, nessa condição de abertura, a gasolina estaria saíndo numa intensa pulverização, na saída do difusor (a peça prateada, embaixo).
E a saída da mistura do afogador, apontada pela seta...
Quando o motor está na marcha-lenta, é assim que fica o pistonete. E a mistura nessa condição flui apenas através dessa saída da lenta.
O parafuso da mistura da marcha-lenta (ou apenas parafuso da mistura)
Chegamos ao fim, desta primeira parte.
Até agora, apresentei partes do carburador e noções do funcionamento delas, e um pouco do conjunto envolvido na alimentação das duas Suzuki 125...
A seguir, vou falar de como o tubo condutor atrapalha o funcionamento dos dois carburadores, VM22 e BS26.
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