Eu nunca comprei carro 0km (ainda não), mas já comprei uma moto 0km. Minha opinião sobre o assunto é a seguinte: vale a pena comprar novo se você:
a) for ficar muito tempo com o bem (algo como 4 ou 5 anos);
b) for usar como ferramenta de trabalho.
Meu primeiro carro foi um Tipo 94. Comprei por R$ 7500,00 em 2004 e vendi por R$ 7500,00 em 2006. Algum desavisado pode pensar que eu não perdi dinheiro, mas R$ 7500,00 em 2004 era o equivalente a uns R$ 8500,00 em 2006, portanto perdi R$ 1000,00 em depreciação (ja que o dinheiro também deprecia). Se eu fosse colocar a conta na ponta do lápis, imaginando que eu tivesse aplicado o dinheiro na poupança, eu teria perdido mais ou menos uns R$ 2300,00 em depreciação. Mas não é só isso: eu também gastei (e muito), com manutenção. Foram 30 mil km rodados em 2 anos, nos quais eu troquei de óleo 6 vezes (4 litros mais um filtro= R$ 600,00), pneus (R$ 800,00), amortecedores (R$1200,00), freios (R$ 250,00), filtro de ar (2xR$ 40,00).Troquei paletas do limpador de parabrisas 2 vezes, e eram uns R$ 90,00 cada vez. No final das contas, eu gastei mais ou menos R$3100,00 com manutenção, ou seja, quase 50% do valor do carro. Foi de longe o pior negócio que eu já fiz na minha vida. Contando tudo, eu perdi num carro de R$ 7500,00 algo como R$ 5400,00, contando depreciação e manutenção. Sem contar os aborrecimentos e os impostos. Claro, eu poderia ter me aborrecido menos se tivesse comprado um Uno ao invés de um tipo, mas a situação não mudaria muito. Eu achei que o problema estivesse com o carro, então da segunda vez eu comprei um Ford Ka.
Do Ka eu não tenho todas as manutenções anotadas, mesmo porque fiquei apenas 1 ano e 1/2 com ele, e depois dei perda total no carrinho. Eu paguei R$ 13 mil reais num Ka 2001 em 2006, três meses depois de ter vendido o tipo. De cara mandei trocar óleo, filtro, filtro de ar, e fazer um alinhamento, balanceamento, geometria. Nesta volta de apresentação, se foram uns R$ 300,00. Pensei que pararia de me incomodar. Eu troquei também os fluidos e as pastilhas uns 6 meses depois, gastando uns R$ 250,00. Em meio ano haviam ido R$ 550,00 pelo ralo. No fim das contas, pra encurtar a história, gastei mais ou menos R$ 1300,00 com o Ka. Mais R$ 1200,00 de seguro, e aí eu bati o carrinho. Foram R$ 2500,00 em manutenção, mais R$1200,00 de depreciação, mais uns R$ 1200,00 da aplicação do dinheiro que eu deixei de fazer. Ou seja, foram R$4900,00 em 1 ano e 1/2 para um carro de R$ 13000,00. Mais ou menos 1/3.. Neste foram 15 mil km.
Eu ainda não havia aprendido a lição, e comprei meu 3º carro, um corsa hacht 2004, modelo novo, completíssimo. Paguei R$ 24 mil neste carro em 2007. Achei que tinha feito um ótimo negócio (o novo estava R$ 30 mil na época). O carro estava com 30 mil km, achei que gastaria pouco. Neste meio tempo foram R$ 6 mil em depreciação (hoje eu pego uns 18 mil nele), uns R$ 5 mil de rendimento numa aplicação, mais R$ 850 em pneus, R$ 1 mil numa revisão de supensão (depois que voltei do MT), 14 trocas de óleo (ou seja R$ 1400,00) e mais alguns outros gastos e incômodos com acabamento. Nestes três anos, gastei R$ 3600,00 com seguro. Tá certo que eu rodei bastante (70 mil km), mas foram R$ 16 mil reais em gastos com o carro. Como eu levei 36 meses para gastar isso tudo, quase nem percebi. Mas já deu praticamente 100% do preço que o carro vale hoje (2/3 do que eu paguei). Minha esposa usa o carro todos os dias, e por isso não posso deixar de fazer manutenção preventiva, porque senão o carro fica na mão. Mas se eu tivesse gasto os mesmos R$ 24 mil num carro 0km, sem acessórios (na época eu compraria um celta com alguns acessórios), eu teria, certamente, gastado menos, e o carro valeria o mesmo ou um pouco mais. Daí que eu deduzo que não vale a pena comprar um carro usado se você roda bastante e fica muito tempo com o carro. Se tudo que eu já perdi de dinheiro com carro tivesse sido aplicado na poupança, eu teria algo como:
R$ 24 mil +16 mil+4,9mil +5,4 mil = R$ 50,3 mil. Este valor me renderia hoje, na poupança R$3018,00 por ano, mais ou menos R$ 251,00 por mês, o que somado ao que gasto com gasolina, daria R$ 500,00 no mínimo. Isso é suficiente para pagar taxi quase todos os dias. Eu poderia ter usado parte deste capital para pagar passagens aéreas das viagens que eu fiz, e ainda me sobraria mais do que o que eu tenho hoje no Banco.
Supondo que eu não possa dispensar o carro, há uma outra conta a fazer. Faz 6 anos que eu tenho carro. Se eu tivesse comprado um carro 0km de R$ 20 mil em 2004, financiado em 48x com os R$ 7500,00 que eu dei no Tipo de entrada, faltaria R$ 13500,00. Eu teria pagado R$ 26 mil, contando os juros, mais os 7500 que eu colocaria no negócio. Este carro valeria uns R$ 15 mil hoje (e eu teria igualmente um carro 2004). Teria perdido mais uns 5000 mil em depreciação. Teria rodado 105 mil km (a quilometragem do meu Corsa hoje), gastado R$ 2500,00 em troca de óleo, e mais uns R$ 5 mil de manutenção. Seria a seguinte conta:
R$ 7,5mil+R$ 26 mil+R$ 5mil+R$ 2,5 mil+R$5 mil=R$ 46 mil, dos quais eu tiraria R$ 15 mil que seria o valor do carro. A despesa ficaria em R$ 31 mil. Falta ainda o gasto com seguro (uns R$ 1300 por ano durante 6 anos=7800,00) Portanto, ainda estaria R$ 11,2 mil abaixo do que eu gastei até hoje. Por isso, amigos, eu finalizo com duas lições financeiras:
- Não troque de carro num intervalor menor que 4 anos;
- Não financie nada com menos de 50% de entrada;
- Compre um carro 0km ao invés de um usado se você roda mais de 15 mil km por ano.
Obviamente, minhas contas podem ter um ou outro valor superestimado ou subestimado. Mas refaze-las contas leva a uma tristeza grande, porque quando gastamos não pensamos no quanto este montante significa ao longo dos anos. Eu me dei ao luxo de gastar R$ 11200,00 reais a mais, o que equivale a vários meses de salário, porque não tinha alguém que indicasse o melhor caminho. Eu não senti este gasto porque, felizmente, minha renda só aumentou neste período. Mas certamente, eu poderia ter usado muito melhor meu dinheiro ao invés de doá-lo para mecânicos, seguradores e donos de lojas de carro.