Há algum tempo, eu vinha pensando em fazer este trajeto, atiçado ainda mais pelas histórias que meu pai me contava dessa serra. Convidei alguns amigos e de pronto todos aceitaram... googlemaps na mão e bora montar o trajeto. Paradas a cada 120/150 km, custos com combustível, programação de horários, etc e tal... Descobrimos que haveria um encontro de motos em Lages no fim de semana de 12 e 13 de Julho. Estava arrumado o pretexto para corrermos com os preparativos e não adiarmos o projeto.
Grupo de viagem: 5 casais, 1 twister, 1 XT 225, 2 Fazer e 1 valente, fiel e linda Yes 125 rsrsrs. Baú 33l cheio, barraca em cima, mala de tanque cheia, piloto e garupa. Com certeza ela estava mais carregada que devia, passando inclusive o limite de carga.
Saída programada para ás 06:30 do sábado, mas quando o relógio marcava 08:00 não estávamos nem perto do Contorno Sul. Depois que todos abasteceram as motocas, BR-101 - Joinville. Descida muito gostosa da serra - pelo menos para mim - depois de algumas reclamações dos amigos que se recusavam a me acompanhar e criticavam minhas curvas ousadas - abusando ao máximo do contra-esterço, terminou a sequencia de curvas e logo á frente pararíamos.
"Primeira Parada". Hora de abastecer os pilotos e garupas. Depois de muita insistência com as garupas e meia hora de pit stop, tive que bancar o chato: "Pessoal, demoramos muito para sair, as paradas terão de ser rápidas, 10 minutos e estrada denovo!".
Confraternizamos com alguns simpáticos viajantes quadrúpedes e conhecemos alguns integrantes do Dinossauros MC de Tijucas do Sul. Partimos com recomendações de cuidado com o trecho ainda em duplicação da 101, atenção com a chuva que supostamente nos apanharia kms á frente (graças a Deus apenas um leve spray, quase imperceptível) e muita sorte!
Resolvemos fazer as paradas a cada 150km tirando na estrada o atraso da saída. Afinal, ninguem conhecia boa parte do trajeto, queríamos conhecer a serra e rodar a menor quilometragem possível à noite.
Segunda parada: São José, região metropolitana de Florianópolis, bastante perto do meio dia, começaram as primeiras reclamações de calor, cansaço, perguntas de 'falta muito?', ' fica longe assim?', 'que horas vamos almoçar?', 'a pior parte já passou?', 'que horas a gente vai chegar?'... que acompanhariam os pilotos até nossa volta a Curitiba. Após um lanche rápido, motos abastecidas, algumas blusas e cachecóis a menos... estrada!
Trechos em duplicação. Aqui começam os martírios de se pilotar uma 125 carregada, se obrigando acompanhar o comboio de 250.... como 7 cv e muitos quilos fazem diferença! O trecho é predominantemente retas e estrada plana. Muito cuidados com os desvios, ora para a direita, ora para esquerda, degrau, areia, transito local... bom pra quebrar a monotonia das retas. Depois de perder algumas ultrapassagens e andar um pouco longe do comboio, voltamos a nos reunir. Logo á frente, Tubarão. Hora de almoçar. Nada de escolher muito (pretendíamos não sair da BR e não encontramos muita opção) até porque, perto das 14h, tudo que vier vem bem....
Quarenta minutos depois... ESTRADA! Aqui começa outra diversão: da PM catarinense, estrada simples, curvas bem desenhadas, pavimento bem conservado, alguns carros lentos e RADARES! Contei três de Tubarão até Lauro Muller (pé da serra), certeza que esse grande número era em virtude do encontro em Lages. Muita esportiva na estrada e movimento intenso na serra. Abastecemos com uma gasolina absurdamente horrível em São Ludgero, mas isso não vem ao caso, não agora.
A visão da serra ao longe já nos dá a certeza que não haverão arrependimentos. O sol partindo para seu descanso por volta de 16 horas contribui para deixar a paisagem mais linda... como se precisasse!
Você entra na serra como que sem querer... Apreciando a paisagem á sua volta, vê-se dentro de uma curva mais fechada que o normal, um leve aclive e.... outro 'cotovelo'. É, meu amigo... você já está na Serra do Rio do Rastro, acostume-se, vai ser assim até o fim! Pra quem gosta de curvas, e não tem medo de encontrar-se com o chão, é um prato cheio. Muitas paradas para fotos, ou simplesmente para dar-se conta de como é maravilhoso o lugar onde vivemos, principalmente para nós que durante alguns momentos "somos a serra do rastro" sobre duas rodas.
Quando termina a serra, chegamos a um planalto com direito a mirante e tudo! Acha que depois das curvas acabou a graça? Pelo contrário, a vista lá de cima é impar, vale cada minuto sentado no banco, cada litro de gasolina e cada dor nova que começa a se apresentar.
Encontramos um mirante 'alternativo' que nos rendeu fotos exclusivas e um desmantelamento do comboio. XT, Twister e uma Fazer foram no mirante padrão, eu e outra Fazer paramos nesse "mirante pirata". Muitas fotos depois, devidamente agradecido a Deus pela oportunidade única, andamos ao máximo, para alcançar os outros 3. Eles achando que tinham ficado para trás, faziam o mesmo...
Cai a noite, o frio é aterrorizante, as placas não confortam muito: "Cuidado Gelo na Pista". As recomendações não são em vão, nos locais de sombra o gelo não derrete, todo cuidado é pouco. Noite escura, muito frio, estrada desconhecida, sequencia de boas curvas em declive, pouca sinalização (pra não dizer nenhuma) e comboio separado. A péssima gasolina agora se torna protagonista, tiro o máximo possível nas descidas e nas curvas que consigo visualizar a trajetória, quando vêm uma subida - mínima que seja - perco toda a potência, reduzo, giro a mão, nada. Terceira marcha, pouco progresso. Segunda, viro a mão com toda esperançaa do mundo, o desejo de chegar fica quase incontrolável. Nenhum sinal de civilização. O frio começa a trazer uma dorzinha de cabeça, alimentada pela fome, um pouco de nervosismo e alguma dor no corpo.
Pequena parada em um posto da polícia rodoviária, reforço no aquecimento do corpo, biscoitos pra enganar, um remédio pra esquecer da dor. Mais alguns quilometros e já é possível ver as luzes da cidade, até que enfim... No primeiro posto da cidade, nossos amigos nos esperando; finalmente o grupo está refeito.
Odômetro marcando 670 km rodados, chegamos a Lages. Devoramos asfalto! Nenhum de nós havia rodado tanto em apenas um dia. Barracas armadas, colchões inflados, curtimos um pouco o evento (o quanto dava em função de alguns participantes desagradáveis e o quanto o corpo nos permitia àquela altura do dia) e um bom e merecido sono!
O cansaço da ida não havia saído do corpo, culpa dos estouros de escapamento, gritaria, globo da morte e demais arruaças durante TODA a madrugada, tudo isso regado a frio, muito frio!
Diferentemente do amigo Joelho, voltamos pela BR-116, até porque já estávamos em Lages e esse ser
ia o caminho mais rápido para chegarmos em Curitiba. Pista simples durante todo trajeto, alguns locais com a conservação comprometida, sendo inclusive recapeada, nada de mais... Sol nos acompanhando até Curitiba, tempo agradável, movimento um pouco maior apenas depois das 15 horas.
Em Santa Cecília, mais gasolina ruim. Mais sofrimento, pouca potência, dificuldade para ultrapassar, subidas tornavam-se intermináveis e muita raiva! Quatrocentos quilômetros depois de Lages, chegamos a Curitiba. Cansados, um pouco sujos, mas felizes...
Viajar de moto pequena não é fácil, alguns dizem inclusive que é perigoso. Mas ninguém ousa dizer que não é bom...
Um brinde aos amigos.
Saúde, paz e muitas estradas a todos nós!
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