Sundown: Uma Revolução Silenciosa em Curso
By Jaime Nazário, Clique no nome do autor ao lado para comentar.
Sexta, 19 Junho 2009
A
Sundown foi a grande revelação e vedete da indústria motociclística
brasileira nos anos de 2006 e 2007. A empresa despontava com
impressionantes taxas de crescimento, apoiada no lançamento de produtos
de valores mais acessíveis e de estilos então atrentes, até com
inovação, como no caso da STX Motard, marketing mais agressivo e rápida
formação de uma ampla rede de revendas. Tudo parecia que se
desenrolaria muito bem e por longo tempo.
No mercado nacional, a Sundown, em seus tempos áureos de vendas, chegou
a abocanhar uma participação de mais de 5%. Em algumas regiões esta
participação atingia níveis até bem maiores, um grande feito para uma
"novata" que vinha para enfrentar as "grandes japonesas" já
consolidadas por aqui.
Mas alguns sinais de problema vinham latentes, apenas estavam
encobertos por uma boa receptividade de mercado. Uma estrutura
administrativa inchada, muitas diretorias e gerências, altos salários,
problemas de gestão e conflitos entre sócios vinham silenciosamente
minando a empresa. A Sundown chegou a ter mais de 1.500 funcionários,
hoje são pouco mais de 1.000.
Vindo o ano de 2008, o aumento da cotação do dólar começou a corroer os
resultados e, a partir de setembro, com a abrupta queda geral de
vendas, a situação se deteriorou muito rapidamente. Em dezembro, a
situação se agravou de tal forma que o prejuízo no exercício já se
vislumbrava. Uma medida extrema precisava ser tomada. A presidência foi
substituída e o executivo Walther Biselli, então diretor comercial e
com passagem prévia pela Nestlé, entre outras empresas, viria a assumir
a empresa, com um colossal desafio: promover uma "revolução" interna na
Sundown e redirecioná-la para resultados positivos, bem em meio a uma
das mais sérias crises mundiais já vividas.
Walther enfrentou, e ainda vem enfrentando, um dos maiores "cases" de
administração do mercado brasileiro. Ao assumir o comando, logo no
início de sua gestão, teve de lidar com a retomada da operação de um CD
alagado depois da enchente em Itajaí (SC), corte de pessoal, negociação
com sindicato dos empregados, descrédito da rede de revendedores, falta
de produtos novos por lançar, necessidade de adequar a linha corrente
de produtos às exigências de menor emissão de poluentes da Promot 3 e
uma visita de "vistoria" de um de seus principais fornecedores, a
QuingQi, que fabrica os modelos STX, que estão entre os "carros-chefe"
de vendas da empresa, enfim muitos, diferentes e urgentes problemas a
serem atacados, todos simultaneamente.
Executivo que se diferencia pela afinidade com o negócio da empresa,
Walther, que é um motociclista que possui moto e que já possuiu vários
diferentes modelos de duas rodas, começou um trabalho discreto de
reestruturação da empresa, e que ainda continua em curso.
De estilo avesso aos executivos "de manchete de revista", Walther
arregaçou as mangas e começou a interagir diretamente com sua equipe e
com a rede de distribuidores. Várias diretorias e gerências foram
cortadas e das 262 concessionárias da marca ao final de 2008, restaram
apenas 200.
Quase terminando o primeiro semestre de 2009, Walther conseguiu
resgatar a confiança da maioria dos concessionárias restantes na
retomada do crescimento da empresa, que agora é bem mais enxuta, melhor
dimensionada aos novos tempos. As dificuldades ainda são muitas, mas já
é um bom começo.
Durante a entrevista, um concessionário, Joemar Pozzebon, da Pozzebon
Motos, da cidade de Ijuí, no interior do RS, que resolvia alguns
problemas administrativos e conhecia melhor os diversos departamentos
de seu parceiro de negócios, relatou ter passado por dificuldades com a
Sundown e teve que argumentar muito para manter a confiança de seus
clientes. No início de 2009, Pozzebon cogitou seriamente fechar seu
negócio, mas, segundo ele, ao conhecer Walther Biselli, sentiu que o
novo presidente se tratava de "uma pessoa simples que transmite
confiança e passa segurança, que está tratando a situação e cumprindo
com as promessas feitas".
Regularmente, Walther tem trazido representantes das concessionárias de
vários estados, em grupos de 5 ou 6, até a sede da empresa para verem o
que está sendo feito e com que perspectivas poderão contar.
Pozzebon chegou a declarar que "vem sobrevivendo, porque tem muita
afinidade com a marca e porque realmente está acreditando que a
situação será revertida com as medidas que vem sendo adotadas".
Sob o comprimisso de ter recebido informações em confidência, o que se
pode dizer é que muitas novidades estão reservadas para a Sundown, a
partir do segundo semestre deste ano, incluindo novos modelos de motos,
retomada do credenciamento de novos revendedores com o objetivo de que
cheguem até 300 e qualificação e homologação de novos fornecedores
mundiais.
Por enquanto, a situação ainda não é das melhores. Realmente não foram
produzidas motos nos meses de abril e maio porque a rede ainda se
encontrava com estoques elevados e em função da adequação dos novos
modelos à Promot 3. Os prejuízos vem se acumulando ao longo dos meses,
mas, segundo Walther, é possível suportar esta situação por mais um
tempo, enquanto se busca uma forma de capitalizar a empresa.
Os desafios emergentes são:
- Buscar um equilíbrio econômico e financeiro da empresa;
- Aprovar modelos de motos de acordo com a Promot 3;
- Lançar novos modelos e revigorar a marca;
- Voltar a se comunicar com o mercado por meio de campanhas e ações de marketing;
- Motivar e qualificar os atuais revendedores, enquanto credencia novos;
- Retomar uma melhor participação de mercado
Há muitos projetos sendo conduzidos, somente aguardando o melhor
momento para colocá-los à vista do mercado. A empresa está caminhando,
mas, como Walther mesmo repete, "não é hora de falar, é hora de fazer".
Agora é só aguardar que o obstinado executivo consiga continuar
empreendo a reestruturação da empresa, que os projetos vistos possam
ser divulgados e que a Sundown volte a ser uma marca de boa aceitação,
tanto ou mais quanto já foi. Vamos torcer, pois quanto mais empresas
que pretenderem oferecer mais e melhores produtos, melhor será para
todos os consumidores.
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