Motoboy desafiou Rally dos Sertões de Ténéré 600

18 Set 2011 13:19 #1 por brurss
A história do motoboy que desafiou o Rally dos Sertões









No já distante ano de 1996, certas coisas não pareciam tão
impossíveis. Por exemplo, um motoboy disp**ar um dos maiores e mais
difíceis ralis do mundo – e sobreviver para contar como foi. O que você
vai ver a seguir é um relato entusiasmante, inspirador e absurdamente
engraçado a respeito dos desafios e das vontades que alimentam os
esportes a motor.


O depoimento de Marcos Martines Neto foi publicado originalmente três anos atrás, no fórum do Clube XT600 .
Tentamos entrar em contato com o herói, mas não obtivemos retorno –
pelo menos por enquanto. Demos uma leve editada no texto, arrumando o
que era necessário, e adicionamos as fotos que o próprio autor postou no
fórum.


De qualquer forma, vale conferir o tópico de discussão completo
(são mais de 20 páginas) e ler sobre as duas pequenas aventuras
anteriores que iriam formentar no então motoboy o desejo de participar
de uma das competições off-road mais difíceis de todos os tempos sem nem
ao menos saber como navegar, e com uma moto duas vezes mais pesada que a
da maioria dos concorrentes.


Reserve os próximos minutos, e boa leitura!


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Estava realmente decidido a fazer um levantamento sobre os custos de
uma participação no Dakar, como aqueles pilotos privados da Europa que
conseguiam participar pelo espírito de aventura mesmo. Eu já li sobre um
cara que trabalhava em restaurante (lavando copos) e que, para os
padrões de lá da Europa, seria como um trabalhador normal aqui. O que
mais me animou foi que gente comum conseguia se inscrever também – só
tinha me esquecido de que lá é 1° mundo e aqui não…


Por ser um apaixonado por aventura de moto e até certo ponto ingênuo,
comecei a planejar minha aventura. Eu já era fã do Klever Kolberg e do
André Azevedo e não sei como descobri o telefone do Klever. Um dia,
achando que o cara teria tempo para me dar umas dicas, liguei para ele…
kkkkkkkkkkkkk… não sei, não entendi até hoje, mas acho que ele achou que
eu fosse um louco psicopata que estaria planejando um seqüestro…
kkkkkk… Não consigo parar de rir aqui… Digamos que o tratamento que
recebi como um simples fã não foi o que eu esperava. O cara não me deu a
mínima atenção, fiquei muito indignado… (estou rindo, na verdade).


Mesmo assim ,já estava planejando sobre o que seria mais barato,
levar a Teneré de navio ou avião – naquela época o Real era quase pau a
pau ao Dólar, e eu modéstia à parte ganhava uma grana como motoboy por
ter 2 empregos e trabalhar na pizzaria que melhor pagava seus
motoqueiros. Éramos 13 entregadores e para sair de lá, só morrendo
mesmo, pois todos os motoboys da cidade queriam trabalhar lá.





Deixa eu explicar uma coisa que muitos de vocês vão entender. Tem
aquele negócio de você ter a sua moto, seu xodó. A sua moto é a mais
bonita, é a mais inteira, é a melhor, é a que nunca quebra, é ela que
nunca te deixou na mão, enfim, é a MELHOR MOTO DO MUNDO! Para uma
aventura dessas, tem que ser com a sua moto, não adianta ser outra. Eu
queria correr no Dakar com a MINHA Ténéré. Poderia fazer como outros
que compram uma moto ou alugam mesmo só para o Rali alguma toda
preparada , pronta, etc… Mas eu não. Não, tinha que ser com a Ténéré,
tinha que ser com essa moto, a minha moto , a mesma do Pantanal e da
Lagoa dos Patos. Se não fosse assim, perderia metade da graça…


Quando eu ligava para a Confederação e falava sobre o Dakar, os caras
ficavam me especulando, tipo “Opa! De onde você é? Você trabalha em
quê?” Kkkkkkkkkkkkk… Comecei a esconder o jogo sobre no que eu
trabalhava só para pensarem que eu poderia ser alguém da grana e me
darem atenção para o que queria saber. Não me lembro bem, mas teve um
cara gente boa la que estava falando sobre o preço da inscrição, acho
que na época era algo em torno de 10 ou 15mil dólares para motos, aí
falei que era motoboy aqui… (rindo). Sabe aqueles vendedores que acham
que vão fazer aquela venda mas depois descobrem que estava conversando
com o faxineiro? Mas o cara foi gente finíssima mesmo assim. Ele chegou e
me disse: seguinte cara, por que você primeiro não faz o Rally São
Francisco aqui e depois você pensa em Dakar?


“Que rally é esse?”, perguntei.


Ele me explicou então que existia um Rally aqui no Brasil que estava
em sua 3° edição e que agora se chamaria não mais Rally Alto São
Francisco, e sim um tal de “Rally dos Sertões”, e que estava para sair a
IV edição. Também me disse algo que me interessou muito: “ele tem as
mesmas regras do Dakar, só que é no Brasil e é mais curto, algo em torno
de 5000km”.


Pronto! Tava feita a m*r*a!! Decidi que faria esse primeiro e depois faria o Dakar (estava escolhendo até, é mole?)


Então esse cara me passou o telefone de quem seria o meu GURU no
Rally dos Sertões, o cara que me daria as dicas e tudo o que eu quisesse
saber sobre a prova. Seu nome: Ernesto. O Ernesto morava em Paranaguá, a
90 km daqui, então combinamos de conversar sobre a chance de eu
participar do Rally pois ele já havia participado e poderia me dar dicas
preciosas a respeito. Realmente o Ernesto me contou tudo sobre como era
a prova, e mais do que nunca decidi que iria correr.


Tinha um amigo meu, o Luis, que trabalhava comigo na pizzaria e
também curtia o fora-de-estrada, então convidei ele para nos
inscrevermos juntos no tal Rally dos Sertões. Engraçado era que eu nunca
tinha ouvido falar dessa prova aqui… A largada seria em São Paulo,
então liguei para o pessoal da Dunas Race (a organizadora da prova) e
falei com o Dionizio Malheiros, que foi o criador dessa prova.


Encomendei a fita do Rally e assisti ela umas 30 vezes ou mais,
analisava cada imagem, cada trecho, o solo, etc. Lembro do dia em que
fui depositar o valor da inscrição, R$ 850,00 na época, e era uma
graninha viu… minha casa estava lá, só no reboco, chapiscada, os tijolos
aparecendo, sem forro, vc via as telhas… kkkkkkkkkkkkkk… e eu gastando
grana em inscrição de Rally. Para me livrar das críticas da esposa na
época, comprei um guarda roupa invocado nas Casas Bahia e pronto, a muié
me deu um tempo, ficava ela lá passando lustra-móveis no guarda roupa e
eu preparando a Ténéré.


Por ingenuidade de minha parte e do Luis, e por já passarmos algo em
torno de 12 a 14 horas por dia em cima da moto, imaginamos que não seria
muito difícil esse Rally, achávamos que a parte de resistência seria
mole. Então, depois de inscritos, veio a parte da burocracia:
documentos, planos de saúde, carteirinha de piloto… epa! Piloto? Como
assim piloto? Isso mesmo, deveríamos nos filiar na Federação aqui para
ter carteirinha de endurista. Até me lembrei do primeiro “enduro“ que
fiz.


Vou contar essa : “ENDURO DA MEIA NOITE“


Não sabíamos ler planilha e nos inscrevemos nesse enduro que era
conhecido por aqui. Não tínhamos equipamento, mas era só colocar em uma
prancheta a planilha e vambora! Fui eu, o Luis e um retardado chamado
Batata. Só que bancamos os espertinhos. Explico: pegamos a planilha um
dia antes e fomos durante o dia escondidos na trilha para ver ser
descobríamos o caminho correto para não se perder (tô passando mal aqui
enquanto escrevo, pois tenho que puxar pela memória essas trapalhadas).





Na noite da largada, trabalhamos na pizzaria até as 23:30h. Apenas
retiramos a caixa de entregas de pizza das motos e fomos direto para a
largada da prova! Eu tirei a carenagem da Ténéré, coloquei borracha nas
laterais do tanque com durex para que não riscasse o tanque em caso de
queda não riscasse o tanque. Me lembro de quando chegamos lá… cheio de
enduristas com suas motos preparadas para trilha, e eu com aquele tanque
de guerra.. Não estava nem ai , mas ouvi um cara la falar algo me
encheu de razão ….” Olha o Peterhansel do Dakar aí gente…”, em tom de
brincadeira, mas pior é que eu gostei!


Então largamos e já sabíamos de cor o caminho – pelo menos até uma
parte. Chegamos em uma entrada de trilha, todos os enduristas pararam e
estavam em dúvida, mas nós sabíamos por onde ir e entramos primeiro.
Veio aquele bando atrás da gente… kkkkkkk. Veio uma subidona de pura
lama e o Batata subiu na frente. De repente, vi umas quatro motos
rolando ladeira abaixo com pilotos rolando junto, e o Batata descendo na
contramão!


Desculpa pessoal mas tenho que registrar a risada, nesse exato momento vou parar de escrever porque tô chorando de tanto rir…


A cena foi muito engraçada. O animal estava fazendo o enduro de trás
pra frente! Muita lama, muita mesmo. Continuamos seguindo, estávamos
perdidinhos na verdade, e ficamos na proa até as 4:30h da manhã pois eu
havia entrado em uma poça de lama que só lamento não ter fotografado
(imagine uma Ténéré aparecendo somente o farol e a carenagem em uma poça
de lama), então parei em uma trilha e tinha um piloto na dúvida se
encarava a lama ou cortava caminho. O cara olhou p/ mim e disse: vai
você na frente que sua moto é maior. Eu todo corajoso fui… e fiquei… o
cara não me ajudou, sumiu, acho que foi rindo embora do bobão aqui.


Mas valeu a experiência. Agora eu era PILOTO (estou rindo de novo).
Voltando ao Sertões, eu já estava inscrito e tinha que preparar a moto e
conseguir o resto da grana para bancar a prova. Tinha uma certa certeza
de que conseguiria uma parte com patrocínio e de que não seria tão
difícil – meu maior erro. Começamos o que foi a pior escalada dessa
aventura: bater de porta em porta nas empresas. Olha pessoal , o que
teve de neguinho que prometeu ajudar mas na hora amarelou…


Foi realmente muito, mas muito desgastante mesmo para mim essa
corrida paralela atrás de grana para completar o pacote. Tá certo que
ninguém era obrigado, o problema era nosso, ninguém mandou se inscrever
em algo que você não pode pagar, mas prometer e deixar na mão,
NÃOOOOOOO.


A data estava chegando e não conseguimos um centavo sequer para
completar os gastos, gasolina, peças de reposição, gasto com
alimentação, deslocamento até Sampa… nem roupa tínhamos!

Os 3 minutos de fama

Então eu tive uma idéia : Vamos para a mídia !!!!! Mas como? Indo, oras…..


Banquei o João sem braço com um canal de TV aqui. Eu mesmo liguei
para o canal e disse: “olha, vocês estão sabendo sobre a participação de
dois entregadores de pizza aqui de Curitiba que vão participar do MAIOR
RALLY DO BRASIL????”


O repórter respondeu: “não… como é isso? Quem são os caras? Onde eles
trabalham? Interessante… Como posso achá-los??” Morderam a isca! Era a
deixa e a chance para tentar pedir apoio. Veio um pessoal da Globo local
fazer uma matéria com a gente e ficou muito legal. Eles filmaram nós
entregando pizza de noite e fazendo trilha de dia e contando que iríamos
participar do Rally dos Sertões. Fez sucesso, viu? E não contávamos que
iria passar depois em nível nacional no Esporte Espetacular no domingo
(não sei se é verdade o que ouvi lá em São Paulo, mas o pessoal disse
que nossa matéria foi a primeira sobre o Rally dos Sertões a passar para
todo Brasil)


No dia que passou a matéria na TV, tiveram que retirar o fone do
gancho na pizzaria porque congestionou todos os pedidos. As pessoas
ligavam pedindo pizza, mas exigiam que quem deveria entregar a pizza
fossem os caras do rali. E olha que na matéria não apareceu o nome do
restaurante nem o telefone…


Mas, e daí? Mesmo com a matéria na TV, nada de patrocínio, só ficamos
nas promessas de alguns. A coisa estava ficando feia, já estávamos
pensando em ligar para a Dunas e cancelar as inscrições. O restaurante
adiantou as nossas férias, uma loja cedeu um pneu, meti a mão na
poupança e usei toda a grana que tinha lá. Mais uma esmolinha aqui e
outra ali…

A preparação da Ténéré

O que e como fazer com a moto para ela aguentar a prova e você não
ser pego de surpresa? Simples: basta usar a Lei de Murphy e tentar
prever tudo o que pode ferrar, quebrar, desgastar, faltar, piorar,
acabar e acontecer de errado. Simples. Eu sentava na frente da moto e
imaginava todos os tipos de tombos e como seria a queda com a Ténéré e
ia listando tudo o que poderia quebrar na queda. Tirei as pedaleiras da
garupa, piscas, bagageiro e coloquei bateria e pneus novos


Detalhe: usei pneus Rallycross da Pirelli, principalmente porque
testei esse pneu e ele aguentava rodar com a Ténéré mesmo furado por
quilometros sem sair do aro. Levantei uns 5 cm o para-lama caso
chovesse, e uma das coisas que mais tiveram valia: coloquei silicone em
toda parte elétrica, fios, cabos e cachimbo de vela para não ser pego em
algum rio e a moto falhar. Vi alguns pilotos com a moto afogada no meio
dos riachos por falta desse detalhe, e principalmente por a Ténéré 90
não ter pedal de partida, não poderia me dar ao luxo de deixá-la apagar
no meio da água.





Outro detalhe , no caso da Ténéré, é dar uma geral no motor de
partida, pois imagine você no areião e não tendo como fazer pegar no
tranco. Nesse rali eu não vi esse detalhe, nem no rali de 97, mas tive
problemas depois no dia a dia, agora imagine você ficar fora da prova
por um detalhe desses. Estava mais preocupado em colocar logo os
adesivos nela do que na preparação, não via a hora de ver ela toda
invocada – eu era apaixonado por aquela moto!

O treino

O Ernesto me falava como eram as especiais de velocidade, então eu
usava a estrada de Guaraqueçaba para testar minhas habilidades – se é
que eu tinha alguma. Era uma estrada de cascalho com costelas, curvas,
pedras soltas e descidas, 80 km de puro off road. Dava para andar forte
lá porque ninguém costumava freqüentar essa estrada.


O Ernesto explicou que quando se perdia, seguia o rastro dos pilotos
da ponta. Acho que por isso eu não esquentei a cabeça em dominar a
navegação nos treinos. Eu sabia que eu era um piloto de ponta, mas da
PONTA DE TRÁS. Uma corda tem 2 pontas não tem? Deixe que os pilotos de
ponta da ponta façam o caminho porque eu vou curtir o MEU PARIS DAKAR.
Na verdade, só queria sobreviver e chegar até o final.


Então chegou o grande dia de ir para São Paulo com as motos. O
Ernesto veio com um amigo de Paranaguá em uma van. Colocamos as três
motos apertadas dentro e seguimos para a largada. Sorte que teve esse
amigo do Ernesto, pois eu estava planejando ir rodando até a largada. O
Ernesto foi com uma KDX200, o Luis com uma XL 350 e eu com a Ténéré.
Fomos os primeiros a chegar no Vale do Anhangabaú, mas a largada
promocional era só às 20h. Lembro quando subi na rampa e o cara do
microfone disse “”Ô loko meu… o que é isso meu Deus!“.


Seguimos para Resende pela Dutra à noite. Ali seria realmente o
começo do deslocamento até Petrópolis (RJ). Esse era um deslocamento de
247 km para os pilotos aferirem seus odômetros, uma estrada cheia de
mata-burros, subidas e descidas. Estava curtindo muito porque até ali
para mim era como a estrada de Guaraqueçaba. O momento engraçado foi o
Luis… ele estava na frente e o helicóptero da organização acompanhando,
então ele acelerou forte em uma ponte em curva e se empacotou. Tombo
feio, quase caiu com moto e tudo dentro do rio, entortou o guidon da
moto dele. Tive que parar para rir – sabe aquele negocio de você querer
rir do seu amigo mas não poder? Então, tive que pensar num monte de
coisas ruins e sem graça para não rir dele, pensei até na minha avó de
bikini, mas não deu, acabei rolando no chão, kkkkkkkkkkkkkk….


Continuamos firme até Petrópolis, onde aconteceu um prólogo em
circuito fechado para determinar a ordem de largada no dia seguinte. Era
uma pista de lama, e não nego que entrei nela com medo de cair. Sentia
uma certa ansiedade de algumas pessoas em querer ver como os motoboys se
sairiam na lama. Fiz uma volta tranqüila e não caí (odeio lama), mas
tinha medo pelo joelho que nunca ficou bom desde a queda no Pantanal. Se
não me engano, tinha 55 motos nessa edição, falavam em 70, e devo ter
ficado em trigésimo e alguma coisa nesse prólogo.


O engraçado foi que um piloto (e bota piloto nisso!) ficou indignado
com alguns repórteres sobre por quê eles não vieram entrevistá-lo e sim a
nós… Eu e o Luis, por termos aparecido no Esporte Espetacular antes do
rally, ficamos meio que como alvo da imprensa que acompanhava a prova.
Todo final de etapa eles procuravam saber se os motoboys ainda estavam
vivos.


A etapa entre Petrópolis a Diamantina tinha 700 km e uma especial
cronometrada de 70 km. Está difícil lembrar das etapas pessoal… só sei
que o Ernesto se empacotou e o Luis então nem se fala. Eu não tinha
caído ainda, mas na Serra do Cipó aconteceu algo tipo “aborto da
natureza”. Só sei que alguns pilotos de verdade e perderam enquanto eu
seguia uma trilha no meio daquelas pedras. Acabei me dando bem em
relação a alguns pilotos da “ponta”: fiquei em 17 ° na geral, e no dia
seguinte larguei na frente inclusive do Juca Bala e do Jean Azevedo (não
andei melhor que eles não, apenas eles se perderam na navegação e eu,
além de nem olhar para o odômetro, escolhi o caminho certo). Quando
acabou essa especial, até o Ernesto veio me elogiar dizendo que estava
impressionado comigo… sorte (ou CAGADA mesmo).


Na etapa Diamantina /Taiobeiras, entrei para o clube dos fazendeiros.
Levei uns tombos meio que um seguido do outro (é muito ruim cair ,
baixa o moral mesmo). Na largada, quando me chamaram, teve um pessoal
que falou “olha o cara da Ténéré … tá largando na frente do Juca Bala!”,
mas foi só por 5 minutos porque depois eu vi os caras detonando atrás
de mim e passando como se eu fosse um inseto. Os caras aceleram mesmo.





Nessa etapa, atravessamos o rio Jequitinhonha e algumas motos ficaram
por la. Água no motor, pane elétrica, o piloto Mauricio Fernandes
perdeu a moto para a correnteza e achou ela somente vários metros
adiante graças aos moradores. Eu, Luis e Ernesto passamos pelo rio.
Nesse rally, as especiais eram curtas, mas o que matava eram os
deslocamentos. Não ligava para horários, fazia a especial e pronto.
Chegava depois do meu horário ideal mas não sabia que estava sendo
penalizado. Andei na frente de alguns pilotos nas especiais, mas no
final do dia ficava atrás deles na classificação. Apenas estava contente
em estar ali, vivo e participando .


Em cada vila de moradores no Sertão eu dava autógrafos. Nunca pensei
que daria autógrafos… Alguns sertanejos me perguntavam: “tá em que
lugar?” Eu respondia na brincadeira: “tô em primeiro, deixa eu ir senão
os pilotos vão me alcançar…”. Mas é muito legal você estar lá, o povo te
vê como um super herói.


Teve uma passagem que nunca esqueço. Atravessando uma balsa, havia
uma única bomba de gasolina no vilarejo. Alguns pilotos paravam ali e
tinha aquela multidão de gente e mulheres (gatas, ruivas , morenas,
feias, lindas…) pedindo autógrafos, crianças dando tchau, o pessoal
aplaudindo a passagem das motos… Parei para abastecer e quase não dava
para descer da moto de tanta gente em volta querendo ver o piloto de
perto e sua moto. Tinha três policiais ali do lado da bomba justamente
para evitar tumulto quando algum piloto abastecia.





Então vi uma mãe com uma criança de cadeira de roda segurando uma
bandeirinha do Brasil. Eles estavam distantes do agito porque a criança
estava na cadeira e não tinha uma visão boa dos pilotos que passavam,
então desci da moto e fui lá perto do menininho, peguei o boné dele e
escrevi “Uma lembrança do Rally para meu amiguinho. Ass: Motoboy”.


A mãe dele não acreditava de tão contente que ficou, e a criança
então nem se fala. O coitadinho ficou paralisado, não acreditava que um
competidor parou, desceu da moto e veio falar com ele. Muito legal foi
aquilo, as crianças de lá viam você como um tipo de Robocop, ou Homem de
Ferro, com todas as roupas, coletes, botas…


Bem, onde estávamos? Ah sim, devo estar em meu 6° tombo já. Tanque
amassado e eu adorando… Para quem tem Ténéré, a porca da mesa do guidon…
sabem qual é, né? Então, foi-se. A moto estava começando a desmontar.


Teve uma etapa Taiobeiras / Lençóis que acabou com a graça para mim.
Além de levar mais um tombo, ainda nos perdemos e andamos acho que uns
150 km a mais graças a navegação do SENHOR TUCA PORRETA, né Tuca? Se
lembra??? Terminamos a especial e formamos um grupo para deslocamento
até o final da etapa, eu,Ernesto, Luis, Tuca Porreta e tinha mais um
piloto. Então pegamos um trecho de asfalto e passamos do ponto. Rodamos
além do que devíamos… só rindo mesmo.


Cheguei em Lençóis (BA) às 23:30h. O Luis não conseguiu me
acompanhar, ficou em uma cidade antes e resolveu dormir por lá. O dia
seguinte seria de descanso e no outro dia de manhã ele apareceu.


Nesse mesmo dia um piloto chegou a dormir na moto e acertou uma placa
de sinalização. Acreditem, você pode dormir mesmo em cima da moto. Eu
apaguei uma vez em um deslocamento de asfalto. Depois da metade da prova
começa a bater o cansaço. A cada etapa ouvia falar em mais clavículas
quebradas.



No tal do dia de descanso, fiquei dando uma geral na Ténéré,
reapertando parafusos, raios, limpando filtro, regulando transmissão,
etc etc. O que estressava era que eu, Ernesto e Luis, por não termos
apoio, levamos ferramentas no caminhão da organização, e para achar o
caminhão e pegar as ferramentas era bem demorado. No dia seguinte seria a
etapa que iria separar pilotos com sorte dos pilotos com azar, os
homens dos meninos.

A etapa Lençóis / Barra

Essa etapa tinha a maior especial de velocidade (170 km de extensão)
no meio de trilhas de areia, muitas trilhas que faziam zig-zag e se
misturavam e se encontravam cercadas de espinhos. Trechos de pedra,
areia, areia, areia que não acabava mais, numa etapa em que o tempo
máximo seria de 4h30 para percorrer e não ser penalizado. Estava
previsto o reabastecimento no meio da especial devido a autonomia das
motos (os apoios dos pilotos saíam de madrugada para esperar seus
pilotos no meio da especial com gasolina para o reabastecimento). Como
eu tinha o enorme tanque da Ténéré, nem esquentei a cabeça com
reabastecimento.


Foi nessa etapa que o Juca Bala ganhou o Rally, pois ele fez em 2h26
se não me engano. Foi muito contestado esse tempo entre os pilotos, pois
o comentário era de que ele cortou caminho. Bem, isso foi briga de
profissionais… vou contar como foi a minha especial.


Fiz ela em 4h32 se eu não me engano, quase outro milagre pois se eu
conseguisse terminar ao menos dentro das 4h30, ficaria classificado
muito bem pois 90% dos pilotos se perderam e não terminaram no tempo.
Esses dois minutos eu perdi porque parei a moto quase na chegada para
dar gasolina para um piloto que teve pane seca – muitos tiveram!





Larguei na especial confiante, pois queria mesmo uma assim, bem longa
e desgastante, para me testar. Nesse dia estava andando como eu defino
EMBUTIDO NA MOTO. Explico. Quando você larga, depois de alguns minutos,
com o sangue já quente e a adrenalina dosada e constante, você e a moto
formam um corpo só. Você fica embutido na moto e tem o controle quase
que total desde a aceleração até o equilíbrio, uma pilotagem perfeita no
seu ritmo. Quando você não se sente embutido na moto, parece que
qualquer buraco, pedra ou areião ficam mais difíceis, é como se dois
corpos separados mas dependentes absorvessem os impactos… é horrível.


Outro detalhe que não comentei. Quando largava a última moto , 10
minutos depois começavam a largar os carros! Os pilotos retardatários
sempre levavam susto depois de algum tempo porque os carros mais rápidos
começavam a ultrapassar as motos. O Luis sabe bem o que é isso. Segundo
ele, nessa etapa teve que se jogar da moto para não ser atropelado.


Larguei nessa especial e fui tocando um ritmo bom e sem cair.
Navegação? Zero. Seguia os rastros, estava mais preocupado em andar
rápido do que ver para onde estava indo. 30km, 50km… calor, muito calor,
80 km… então comecei a desidratar. Levei um tombo de propósito para não
acertar de frente em uma rocha numa curva traiçoeira.


Acidentes, atropelamentos de animais( um piloto destruiu a moto)… O
Luis quebrou antes da metade, e o Ernesto eu não vi mais. Passava por
tanta pedra e buraco que pensava “não é possível que não quebre um monte
de gente nesse lugar”. Pelo caminho fui só contando as motos quebradas e
sem gasolina, e eu passando. Ainda tinha energia de ficar de pé nas
pedaleiras no areião, mas estava desidratado e morrendo de sede. Juro
que beberia minha urina ali. Nunca havia sentido SEDE de verdade……


Vi um piloto americano (não vou arriscar escrever o nome dele) parado
ao lado da moto , com cara de acabado mesmo, vermelho igual a um
pimentão. Não sei o que aconteceu, mas eu passei reto.

Sorte e azar

Essa etapa foi a mais difícil. A maioria dos pilotos se perderam e
foram parar próxima de Xique-Xique ao invés do destino certo, que era
Barra. Os pilotos não observaram na navegação um desvio importante, e os
que vinham atrás seguiam os rastros e se perdiam também!


A minha sorte é que eu não aguentava mais de sede e já não andava
mais com aquela pose na moto em pé nas pedaleiras. Estava em frangalhos,
vi um casebre de barro e parei para pedir água. O pessoal da casa veio
com uma água amarela e falaram que eu poderia beber porque era dessa cor
por ser de raiz de uma planta. Sem problemas: se fosse água de privada
eu beberia… e acreditem: foi a água mais gostosa que eu bebi na minha
vida!!! Matei a sede e o restinho eu queria jogar na cara e molhar a
cabeça, mas por respeito a eles – que estavam tirando água deles para me
dar – eu bebi tudo.


Então um senhor me disse “olha moço, Barra fica pra lá , naquela
direção! Os pilotos estão entrando ali e ali vai para Xique –Xique… eles
estão indo para o lado errado!”. Eu parei bem no desvio e não sabia de
nada, teria errado o caminho também se não fosse por esse senhor. Então
segui a dica dele e e segui para Barra, voltando a acelerar. Ainda
ultrapassei uns dois pilotos que já haviam se perdido e estavam
retornando para o caminho certo. Chegamos em um estradão com o pó mais
fino que eu já vi, dei bobeira e deixei um deles me passar. Fiquei cego
na poeira… resultado: tombaço!!!


Eu sabia que estava a uns 10 km da chegada, então vi uma cena tétrica
(kkkkkkkkk): um piloto no meio da estrada com os braços abertos e
gritando para eu parar pelo amor de Deus! Quando parei a moto, ele me
pediu um pouquinho de gasolina… a moto dele estava amarrada em um jegue e
pronta para ser rebocada até Barra!!! A Ténéré estava quase seca já,
mas eu acabei doando gasolina para ele. Foram esses 2 a 3 minutinhos,
mais o tombo, que me fizeram não terminar no tempo essa especial. Uma
pena. Mas o que me impressionou foi o desespero desse piloto. Não
precisava ficar assim: tinha muitos pilotos lá atrás. Muitos chegaram só
de madrugada, resgatados pelos carros-vassouras que percorrem a trilha
resgatando o resto das motos e pilotos que vão quebrando e ficando pelo
caminho.


Perdi a porca do pinhão da Ténéré e para não perder o pinhão , eu
ficava com a bota no eixo para ele não escapar. Andei quilômetros assim
até chegar numa vila que tinha um soldador. E assim sobrevivi à pior
etapa dos Sertões. Estava muito orgulhoso de mim mesmo!


Cheguei na beira do Rio São Francisco e lembro que me joguei da moto,
deixando o corpo cair ao lado dela. Lá fiquei deitado por uns 10
minutos pensando no desafio que venci…..

E vai rolar a festa

Para os solteiros é o paraíso. Para os casados, uma provação. Muitas
mulheres querendo se aventurar com os pilotos… Não sei por que, mas elas
ficavam alucinadas com os pilotos no final de cada etapa. Sempre tinha
uma festa regada a musica regional comemorando a passagem do Rally.


Tinha uns caras lá que estavam com uma Saveiro “preparada”. Soube que
se desentenderam durante a prova porque parece que um deles se engraçou
com uma sertaneja e não queria mais continuar, queria ficar mais dias
na cidadezinha enquanto os outros queriam continuar a prova.





Na etapa seguinte, entre Barra e São Raimundo Nonato, no Piauí, dei o
nó na parte da especial. Estava meio traumatizado com a etapa de Barra
(é, não nego que fiquei meio acovardado mesmo). Com a Ténéré eu fazia
duas vezes mais força do que qualquer piloto que estava ali com motor
bem mais leves. Eu e o Ernesto andávamos juntos nos deslocamentos e nas
especiais, cada um no seu horário de largada. O Luis já estava com a
moto dele no caminhão da organização e vinha de carona com o pessoal.
Então, quando chegamos na largada da especial, resolvemos seguir para o
final da etapa e por outro caminho (que era pior que a especial,
acreditem). Areia, areia, areia… meu Deus, tinha até carros de apoio
atolados naquele mar de areia!


Chegamos em um posto de gasolina no meio do nada e parei para
abastecer. Veio uma moça me pedir um autógrafo e com um ar de despeito
me disse: “É… agora vocês vão para a cidade das mulheres, né?”. Eu não
entendi e perguntei: por que cidade das mulheres? Ela apenas me
respondeu: “você vai saber quando chegar lá”, com um sorriso sem
graça. Era São Raimundo Nonato , uma cidade que estava preparando uma
recepção para a caravana do Rally que parou tudo!


Faltavam 70 km para chegar no final da etapa. Enrolei o cabo para
chegar logo e procurar as ferramentas para fazer a manutenção na Ténéré.
A essa altura , ela estava precisando de troca de peça na suspensão
traseira. A mola do amortecedor estava cansada, eu vinha sentindo os
impactos quando passava forte em buraco ou erosão. Não me importei e
continuei como se estivesse em uma especial de velocidade. A estrada era
bem ruim e tinha algumas erosões. Faltando algo como uns 20 km para
chegar, saltei uma erosão e a moto deu um estouro e… morreu. Pronto, já
era. Senti uma pancada forte da suspensão e fiquei pelo caminho,
esperando o carro vassoura para me resgatar.


Cheguei na cidade e nunca vi coisa igual.Vi um cordão humano na
entrada do asfalto até a entrada da cidade formada por pessoas
aplaudindo cada piloto que saía da trilha. Coisa emocionante mesmo!


Quando desci a moto, tive problemas com as fãs do Rally… Não só eu,
como todo piloto que chegava. Nunca vi tanta mulher em uma cidade como
aquela, e não estou exagerando não: os pilotos tinham que se esconder!
Rasgaram a jaqueta de um lá. Cheguei a perguntar para o pessoal: por que
só havia mulher na cidade??


Eu sabia que o problema da moto era no CDI (Sistema de Ignição por
Descarga Capacitativa), porque na Ténéré ele fica embaixo do banco e
havia trincado. Então achei que estava fora do Rally. Onde eu iria
encontrar um CDI ali e largar no dia seguinte?


Estava tão desesperado que falei para o Luis tirar a moto dele do
caminhão para tentar consertar, pois na minha cabeça eu poderia ir com a
moto dele até o final. Seria desclassificado mesmo, mas que se dane, eu
só queria ir até o final.


Estávamos na frente de uma pousada onde dormiríamos. Desmontei a moto
toda, mas sabia que era o CDI. Nesse tempo, os pilotos descansam, os
mecânicos trabalham e as pessoas da cidade ficam observando os carros e
as motos e o pessoal trabalhando. Estava lá, com o CDI na mão, e um
monte de curiosos só observando. Povo simples, querem até ajudar. Veio
um cidadão e me perguntou: “o que aconteceu aí amigo?”


Estava nervoso e nem olhei para ele, continuei abaixado, olhando o
CDI. Ele insistiu. “É o CDI que quebrou?” Eu tava ficando nervoso e
pensava: DE QUE ADIANTA RESPONDER SE NÃO VAI ADIANTAR NADA? E como ele
sabe que é um CDI isso aqui?


Então ele falou: “Ei….você não é aquele motoboy do Sul que saiu no
Esporte Espetacular?”. Respondi que era eu mesmo. O cara começou a rir e
chamou um monte de gente para me ver. “Olha o cara da pizza aí!!! Olha o
cara da pizza aí!!!”. Então ele me disse: “É o seguinte meu irmão,
vamos consertar esse CDI aí, eu tenho uma oficininha, vamos levar lá que
eu soldo isso pra você


Ainda não acreditava nele. Nunca tinha visto alguém consertar um CDI…
mas tudo bem, tiramos o CDI, já tinha um carro me esperando para me
levar na oficina. No carro, uma moça que dirigia perguntou se eu não me
incomodava de ela fumar um cigarro. Kkkkkkkk… me senti um semideus ali,
não sabiam o que fazer para me agradar, é mole?


Acreditem: o Bolinha (esse era o apelido dele) descascou o CDI e em
um trabalho cirúrgico, soldou todo o circuito impresso. Enquanto isso,
me levaram para dar uma volta na cidade para ver a festa. Para eles, era
a maior moral andar ao lado de algum piloto do Rally. Pior é que eu
estava todo sujo e empoeirado, nem banho e nem a roupa eu tinha tirado.
Entramos em um bar e tive que tomar um gole de pinga com limão e sal,
para não ficar feio…


Lá pela 1h30 da manhã, finalmente recolocamos o CDI na Ténéré. Dei a
partida… e ela funcionou!!!!!!!! Esse Bolinha me salvou!!!! Devo esse
rally a ele…


Quando cheguei em casa, mandei uma foto agradecendo o cara e
comunicando que eu havia terminado a prova graças a sua ajuda. Isso foi
uma lição para mim, um tipo de tapa na cara. Julguei o cara errado…


De São Raimundo até Teresina foram 538 km, e o que matou mesmo foram
os deslocamentos em um asfalto pior do que as trilhas, muito ruim mesmo.
O Ernesto estava com problemas de furo de pneu, e eu estava levando na
sorte. Nessa etapa tomei o melhor gole de cerveja da minha vida depois
de tomar a melhor água da minha via. Estava na estrada e vi um doido no
meio do asfalto com um copo na mão acenado para os pilotos que passavam.
O cara estava mamado! Entrou na minha frente e me ofereceu um gole,
kkkkkkkkk…


Em Teresina comi o melhor pedaço de Melancia da minha vida também. Com sede, tudo que tiver líquido tá valendo.





Na última etapa entre Teresina e Fortaleza, foram 870 km, com dois
trechos especiais cronometrados. E a segunda especial era nas dunas.
Chega uma hora que parece que você vai ficando meio bunda mole de tanto
sofrer, mas eu encarei as dunas, e não caí. Passava por aquelas lagoas e
não caía, mais areia, muita areia, sempre seguindo rastros formados na
areia. Cheguei até o final vivo! Um repórter me disse o seguinte: “cara ,
tu é duro na queda hein?? Quando vi você nas dunas, preparei a maquina
para tirar uma foto de você caindo e não consegui….queria fotografar um
tombo seu e não consegui… ” Mui amigo esse cara! Eles ficam como urubus
na carniça querendo ver tombos e capotamentos.


Lembro que o Dionizio Malheiros (o organizador ) estava na chegada do
final das dunas, então ele me deu os parabéns – ele certamente estava
torcendo para que os motoboys terminassem o rally. Desci da moto, me
ajoelhei e o Ernesto tirou uma foto! Ainda tinha o resto de deslocamento
até Fortaleza e mais um furo de pneu do Ernesto. Nos atrasamos, mas
chegamos à noite.





No dia seguinte tinha uma pequena especial em circuito fechado nas
dunas para o pessoal assistir, mais uma exibição mesmo. Então o Luis
apareceu com a moto andando… incrível, ele tirou ela do caminhão e
funcionou. Sei não hein? Ela quebra mesmo, Luis?


Não atolei nas dunas. Dei umas voltas e estava curtindo o finalzinho.
Não passei vergonha. Após exatos e contados dez tombos, sobrevivi ao IV
Rally dos Sertões


Só no final comecei a entender sobre as penalizações, e por saber que
andei na frente de alguns pilotos que receberam troféus, fiquei com uma
pontinha de frustração. Ganhei uma medalha de participação e o Ernesto
conseguiu um troféu na sua categoria, mas eu realmente estava orgulhoso
de ter completado a prova. Pilotos muito mais experientes ficaram pelo
caminho. É preciso ter sorte, garra e um pouco de braço – não foi fácil
segurar a Ténéré, mas ela me levou até o final.





É como eu disse: você começa andando de uma maneira, e termina
andando melhor no final, mas não percebe. E pode ter certeza, você não
volta a mesma pessoa! Havia conseguido fazer o meu “Paris-Dakar
pessoal”, e tive uma visão do Brasil que muitos não conhecem.


A Ténéré eu vendi para um cara de Paranaguá e soube que ele foi para o
Nordeste com ela e voltou na boa. Não sei se ele descobriu o jeitinho
no CDI até hoje…


__________________________________________________________________________________________


O supermotoboy Marcos Martines Neto também disp**aria a edição
seguinte dos Sertões, e este segundo relato também foi publicado no
fórum do Clube XT600.


b][url="http://www.forumxt600.com.br/forum/viewtopic.php?t=9264&postdays=0&c=1&postorder=asc&mode=&poster_id=0&start=0"]Clube XT600[/url][/b

- Yamaha Fazer 250 07 (atual)
- Suzuki Burgman 2008 (atual)
- Honda Twister 05
- Suzuki Yes 08 (muitas viagens)
- Suzuki Burgman 06
- Honda CR250R (Joelhada!)
- Yamaha DT200R 97
- Kawasaki Kdx 250

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18 Set 2011 13:22 #2 por brurss
A segunda aventura do motoboy que desafiou o Rally dos Sertões: de São Paulo a Natal









Atendendo a pedidos, aqui está o relato (sempre divertido) da segunda aventura de Marcos Martines Neto, nosso Bill Caswell tupiniquim, dessa vez metido numa exaustiva corrida de 5 mil quilômetros entre São Paulo e Natal (RN).


E se você acabou de ser apresentado a esse personagem do
motociclismo nacional, aproveite e dê uma lida na história de sua
primeira empreitada no Rally dos Sertões, aqui .


________________________________________________________________


Em 97, resolvi participar novamente do Rally dos Sertões , pois não
saía da minha cabeça a idéia de que eu poderia ter ganhado um troféu no
ano anterior se não fosse tão inexperiente. Era como que se eu quisesse
provar para mim mesmo de que seria capaz de fazer o percurso novamente e
obter uma melhor colocação mesmo com a pesada TÉNÉRÉ e com equipamentos
básicos. Não me conformava de ter andado na frente de alguns pilotos
sem pegar nem um troféuzinho…


Mas esse foi o preço de não ter navegado e prestado atenção nos
tempos. Terminava a especial cronometrada e relaxava, achando que não
tinha mais horário para chegar no final da etapa. O ser humano é
estranho mesmo… já não bastava conseguir terminar e chegar vivo?


Lembro-me das palavras de André Azevedo em seu livro “Grãos de
Areia”. Nos primeiros ralis de que participou, as imagens da prova
vinham em sua mente até seis meses após o ocorrido! O mesmo aconteceu
comigo: as imagens dos Sertões me perseguiram durante meses. Era como se
estivesse passando um flash back dos momentos marcantes dessa
competição, das especiais, das largadas, chegadas, sufocos, no que você
errou, acertou, o que poderia ter melhorado, os perigos e as amizades.


Quando se está numa prova assim e a carga de adrenalina chega ao
máximo, você não assimila muito as peculiaridades do trajeto. Mas quando
ela termina, dá para sentir calafrios ao lembrar de certas situações
por que passamos.


Essa minha segunda participação ficou marcada pela luta por PATROCÍNIO.

Os bastidores

Eu, Luis e Ernesto estávamos inscritos novamente para a quinta edição
do Rally dos Sertões. É como um vício. Eu e o Luis usamos o mesmo
método de marketing para tentar conseguir apoio. Pensávamos que seria
mais fácil, já que éramos um pouco mais conhecidos. O preço da inscrição
subiu também, pois a Dunas Race estava se profissionalizando bastante.


Começamos a bater de porta em porta pedindo apoio em bancos,
seguradoras, empresas privadas, mas não conseguimos resultados
satisfatórios. Muitos achavam nossa participação muito interessante, mas
na hora de ajudar tiravam o corpo fora. Perdi a conta de quantas vezes
ouvi alguém dizer “fale com tal pessoa, bla bla bla….”, mas nunca
conseguíamos falar com a pessoa certa, só encontramos papagaios pela
frente.


Não me considero uma pessoa superinteligente, mas também acredito que
não sou burro! Nunca pensei que poderia me confrontar com gerentes de
marketing de empresas, e que os mesmos dariam as desculpas mais
esfarrapadas do mundo para pular fora do apoio. Eu,sem formação em
marketing , consegui sair na mídia visual, falada e escrita, além de
três minutos de TV nacional apenas na simples visão do “motoboy
aventureiro”. Tive a visão que os cabeças duras não tiveram, kkkkkk…


Mas o que realmente marcou foi o preconceito dessas pessoas com o
referencial “motoboy” ou “entregador de pizza”. E isso foi antes de
aparecer aquele maníaco do Parque – imaginem como seria agora então!


Eu e o Luis estávamos tão certos que conseguiríamos apoio aqui no
Paraná que passamos cheques pré-datados para pagar as inscrições e
comprar peças para as motos. Chegamos a fazer algumas matérias nos
jornais e até uma chamada na televisão. Sair na tela aqui era a coisa
mais fácil do mundo… teve até especulações sobre o programa do Jô Soares
e uma matéria na ESPN, mas confesso que já estava de saco cheio disso,
queria era correr e não ficar perdendo tempo. Me ligavam para fazer
matérias, mas eu estava estressado com a falta de patrocínio e mandava
todo mundo à m*r*a, kkkkkkk!!!!!!


Muitos se comprometeram a ajudar, teve até concessionária de motos
que prometeu a dar umas peças para a moto do Luis, mas na hora H se
fingiram de mortos…


Vou contar uma historinha só para vocês terem uma ideia de como foi
ridícula a nossa corrida para conseguir apoio. Por telefone, entrei em
contato com um representante de um óleo sintético famoso aqui no Paraná.
Contei a ele sobre nossa participação no maior rali da América Latina e
se não daria para ele descolar alguns litros de óleo para nossas motos,
assim divulgaríamos sua marca. Essa pessoa ficou muito entusiasmada em
poder colocar adesivos em nossas jaquetas e motos e me convidou para uma
reunião.


Quando já estávamos discutindo a quantidade de óleo e onde seriam
colocados os adesivos nas roupas, o cidadão me perguntou em que eu
trabalhava. Bem, quando disse que trabalhava como motoboy o cara mudou
da água para o vinho. Começou a enrolar e falar para passar na semana
que vem… só que o bacana já havia garantido seu apoio em óleo, aí
começou uma masturbação mental: ele de um lado sempre desconversando e
enrolando, e eu do outro apenas querendo ver até onde iria essa novela


Já sabia que era preconceito dele, mas fiz de conta que estava
acreditando na conversa mole dessa pessoa. Faltando apenas dois dias
para irmos a São Paulo, fui lá colocar fim na novela das oito. Tive a
cara de pau de pedir apenas um litro de óleo sintético só para ver o que
ele diria. E não é que o cara disse que teria que fazer uma reunião com
não sei quem para ver se dava para liberar???? Mesmo assim, resolvi
comprar esse óleo sintético para ver se era bom o suficiente para não
precisar fazer a troca durante a prova.


Seguinte pessoal: nessa vida de moto acho que rodei (trabalhando)
algo em torno de uns 850 mil quilômetros, então sei bem o que uma moto
aguenta ou não. O que vou comentar aqui é coisa de deixar qualquer
técnico, engenheiro e afins do ramo de lubrificantes de cabelos em pé – e
nem venham me processar que eu tô duro! Mas com uma ML125 apenas
completando o nível de óleo (mineral) no motor, sem ao menos trocar ou
esgotar o que tinha lá, com ÓLEO QUEIMADO MESMO, rodei 150.000
quilômetros e a moto fumava bastante, MAS NUNCA QUEBROU, então achei uma
tremenda viadagem mesmo a raiva que passei com esse representante de
óleo sintético aqui na época. Como se eu não fosse sobreviver sem o tal
óleo……


Às vezes a experiência, necessidade e a prática se sobrepõem à teoria de alguns digamos ENTENDIDOS….


Mas voltando ao assunto:


Eu e o Luis estávamos querendo desistir. Resolvemos ligar para a
organização da prova para cancelar as inscrições. Explicamos a situação
para o Dionízio e ele nos deu uma resposta que mudaria totalmente nossa
vontade. Ele disse que a organização bancaria nossas inscrições em 50%!
Foi um alívio… Ele disse que a mídia em Sampa achou interessante nossa
participação no ano anterior, e que queriam ver os motoboys novamente na
prova. Depois disso comecei a mandar à m*r*a todo mundo daqui do
Paraná, fiquei revoltado com o papo furado, kkkkkkkkk…


Já decidi que nessa, na próxima e na outra encarnação EU NUNCA MAIS QUERO SABER DE PAPO DE PATROCÍNIO SEJA LÁ PARA O QUE FOR!!!!


Foi aí que tive uma idéia que a princípio parecia absurda (eu e minha
idéias, kkkkkkkk): confeccionar camisetas com uma foto minha na Ténéré
durante o rali passado e embaixo colocar um texto nada convencional. No
texto estava escrito: ” FUI OBRIGADO A COLABORAR COM OS MOTOBOYS PILOTOS
LUIS E NETO”. Neto era como eu era conhecido aqui pelos colegas. Foi um
tipo de apelação misturada com bom humor para que assim pudéssemos
vender as camisetas.


E essa foi a ideia mais simples e genial que tivemos: vendemos todas!
E ainda faltou!!! Um repórter aqui de um jornal deu uma força colocando
uma matéria sobre a venda das camisetas para angariar fundos. Mas
sempre era aquele negócio, ligavam e exigiam que um de nós fosse
entregar pessoalmente, etc. Pessoas de outras cidades queriam também.


Mesmo assim, o dinheiro que conseguimos daria para somente um de nós
participar da prova, mesmo com o abatimento das inscrições. Ficou
decidido que eu iria. O Luis acabou desistindo. Estávamos muito perto da
largada para fazer mais camisetas, mas acho que se vendesse elas pela
internet eu conseguiria mais ajuda dos que acreditavam na aventura.


O ruim dessa história é o desgaste psicológico que você sofre
correndo atrás de dinheiro até a largada. O ideal seria se preocupar com
a competição e não com promessas mentirosas dos outros. Não que eu
fosse vencer o rali, mas não dá para chegar lá já meio esgotado
mentalmente.


Daqui do Paraná, fomos eu e o Ernesto. O Luis nos acompanhou até São Paulo para a largada.

Finalmente a largada

Em 1997 o Rally dos Sertões havia crescido muito devido ao sucesso do
ano anterior. O número de pilotos aumentou. Eram 80 pilotos de moto e
60 carros divididos em categorias. Pior para mim, pois para conseguir me
classificar entre os 10 primeiros na minha categoria (Marathon) não
seria fácil. Pensava em ganhar um troféu e estava me esquecendo do
principal, que era completar o rali!


Estava ficando ambicioso e não percebia , já contava como certo
chegar no final e agora queria um troféu.Alguns pilotos tinham me
falado: cara, venha com uma moto especial mais leve ano que no ano que
vem você arrepia! Mas como eu não era e nem queria ser ou bancar o
profissional e sim apenas curtir minha Ténéré, voltei com ela.


Meu objetivo era de fazer uma pilotagem tranquila, não andando tão
forte como no ano passado (que nem vaca louca sem saber nem para onde
estava indo), e sim dando prioridade para a navegação, sem precisar
seguir os outros, pois não basta você ser rápido, precisa saber navegar.
Uma pitada de sorte também ajuda muito, misturada com o azar de outros
que vão quebrando pelo caminho…


É, eu também comp**ava as quebras dos concorrentes para calcular meu
ganho de posições… o que tem de errado nisso? Kkkkkkkk… Não vou negar
que teve um cara lá que joguei o maior zóio gordo do mundo para pegar a
posição dele na prova: o cara tirou sarro de mim antes!!! Não podia
deixar barato não! Mas ele não quebrava, não acontecia nada para ele se
atrasar, aí passei ele no braço mesmo, na raiva, mas passei – e foi uma
das melhores sensações que senti nos dois ralis de que participei, que
delicia que foi olhar pra cara do cidadão no final da etapa…. Era briga
de pernilongos, mas parecia duelo de titãs, kkkkkkkkkkk!


A moto era a mesma Téneré 600 com o mesmo motor e o mesmo CDI
original de fábrica. Ainda estava com a fita isolante que o Bolinha
havia colocado no CDI do rali passado, só mudei a posição do CDI para
não ficar na reta do curso final da balança.


Fiz a mesma preparação e agora tinha um equipamento de navegação. Era mais pesado que a frente da moto…


Quando estávamos chegando perto do Estádio do Pacaembú já em São
Paulo para a largada, alguns motoboys acho que reconheceram a Ténéré na
carretinha com a moto do Ernesto (uma DR650) e vieram nos escoltar até a
largada! Legal mesmo, veio um e já me pediu uma assinatura na revista
de moto que ele tinha na mochila.





Esse ano tinha uma BMW lá. Branca , motor horizontal, e quem pilotava
era um senhor com certa idade. Também tinha uma dupla de alemães
(Klauss e Herbert) com um tipo de triciclo com aquela cadeirinha lateral
para o passageiro, igual aos usados pelos alemães na Segunda Guerra
Mundial. Não sei o nome daquilo, acho que é side car, sei lá. Só sei que
aqueles caras participaram do Rally dos Faraós e pilotavam muito
aquilo. Agora imagine você correr os Sertões com um cara na garupa, ou
melhor, pendurado do seu lado?





Também estavam lá alguns outros pilotos estrangeiros como Jordi
Arcarons, piloto do Dakar, e acreditem como esse mundo é pequeno, Klever
Kolberg e André Azevedo pilotando carro também estavam lá, hehehehe…
Eita vida engraçada. Bem, não vou negar que na hora que vi aquelas
equipes, fiquei meio abobado. Eu, correndo no meio daqueles feras… será
que eles estão pensando que sou um impostor aqui? Acho que não, veio
muita gente falar comigo na largada, tipo “então é você o tal do
motoboy???”


Partimos do Pacaembu às 20:00 horas em um deslocamento até Mairiporã
(SP), onde os cronômetros seriam realmente disparados. Tivemos que
dormir em um motel pois não havia mais lugar na caravana do rali. No dia
seguinte, a etapa terminaria em Varginha (MG) onde teríamos nosso
primeiro acampamento.





Lembro-me que terminei em 61º lugar na geral (eram 80 motos). Sabia
que faltava muito para o final, e que muitos pilotos estavam andando
muito forte para uma prova de 12 dias.No começo, sempre tem os caras que
querem e acham que o rali vai acabar no mesmo dia, o que é um erro:
numa competição assim, é preciso administrar, pois são vários dias e não
um só.


A próxima etapa, até Belo Horizonte, passaria pela bela Serra do
Cipó, com uma visão espetacular e muitas pedras soltas pelo caminho. Foi
nessa etapa que levei o maior susto.

A dor das quedas

Vinha andando bem e até havia recuperado algumas posições depois de
levar um tombo em um riacho lá atrás, quando o helicóptero da
organização começou a sobrevoar bem perto de mim e mais dois pilotos.
Geralmente quando o helicóptero chega muito perto é porque está fazendo
filmagens dos pegas. Alguns pilotos começam a andar mais rápido só para
se exibir para as câmeras… e eu fui um desses otários!!!


Comecei a andar mais do que podia com a Ténéré no meio daquelas
pedras soltas e erosões, inclusive levantando a frente da moto e
empinando. Tava lá, em pé nas pedaleiras, me achando, kkkkkkk… Achei que
fosse o PETERHANSEL sendo filmado pelo helicóptero. Nessa hora, na
minha cabeça, senti o gostinho de quando via as cenas do Dakar filmadas
de cima. O helicóptero nem estava mais por perto mas mesmo assim
continuava com o espírito dakariano baixado em mim, e andando muito
forte para um duble de piloto (desculpa galera, estou rindo de novo).


Continuei andando forte e, como não poderia deixar de ser, entrei com
moto e tudo em uma erosão. O tombo foi espetacular, voei uns 6 metros
longe da moto, feio mesmo. Comigo não aconteceu nada, mas com a moto…
Lembro bem dos segundos enquanto eu estava no ar voando. Deu tempo de
pensar: onde a moto vai cair? Onde a moto vai cair??? Onde será que está
a moto nesse momento??????? Será que ela vai cair em cima de
mim??????????


Depois da queda, só me preocupava em ter certeza de que não tinha
sido filmado. Imaginem só o vexame, kkkkkkkk… A moto entortou o guidon e
afundou o lado esquerdo do tanque de combustível, e o pedal de câmbio
entortou. Foi muito difícil terminar aquela etapa pilotando daquele
jeito, com o guidon torto, parecia mais um caranguejo andando de lado.


Percebi então que terminar a prova era o mais importante e resolvi
ser mais cauteloso. Estava ali para tentar ganhar um troféu, mas precisa
terminar a prova antes. Aquele segundo tombo e o do começo da prova
haviam me deixado meio abalado. No Rally passado, comecei a cair depois
da metade da prova e foram 10 tombos contadinhos. Nesse, a coisa estava
indo mal pela projeção…


Algumas baixas já haviam ocorrido tanto nas motos como no carros. Eu
continuava com a minha tocada, navegando sempre. Estava contente só pelo
fato de não precisar andar colado em algum piloto para não me perder.
Também teve um momento em que estava tão concentrado na navegação que
você percebe que outros pilotos começam a te seguir nos deslocamentos.
Dei uma errada em uma etapa e levei uns 3 pilotos junto no caminho
errado, hehehehe…





Todo final de etapa, quando os pilotos se reuniam para o briefing,
você ouvia que tal piloto quebrou a clavícula, perna, braço, etc, e por
alguns segundos pensa que o mais importante mesmo é chegar ao final, e
de preferência vivo.


Na etapa de Montes Claros(MG), o Ernesto teve a corrente da moto
quebrada. Fui vê-lo só dois dias depois. Achei um pedaço de barra de
cano em um posto de gasolina e desmontei o guidon da Ténéré para poder
desentortar. Não ficou 100%, mas a pilotagem melhorou muito. E encontrei
mais um fã nessa cidade com a revista Playboy na mão onde aparecia uma
foto minha para eu autografar. O cara estava me esperando no final da
etapa!!!


A etapa de Alto Paraíso (GO) era uma etapa muito longa e com a maior
especial (300km), e foi marcada por capotamentos nos carros e ossos
quebrados nas motos. Mesmo assim, sobrevivi! Nessa etapa cheguei à noite
e tive dificuldades em descer da moto de tanto tempo nela. Quando desci
, fiquei meio tonto. O pessoal da chegada percebeu e me segurou pelo
braço para não deixar a moto cair no chão quando desci dela


Alto Paraíso foi a cidade mais estranha que eu já vi na vida. Não é
crítica, mas o pessoal é bem diferente, o negócio lá é disco voador
ficar olhando para o céu procurando disco voador, coisas assim.


De Alto Paraíso(GO) a Barreiras (BA), novamente alguns capotamentos e
um acidente grave nas motos. Um piloto se perdeu em uma curva de
cascalho e foi com moto e tudo em um paredão de pedras, causando uma
compressão na espinha. Ele estava na minha frente. Essa estrada de
cascalho tinha curvas perigosíssimas que te jogavam para fora da estrada
por serem inclinada para o precipício, sem um ângulo oposto de
inclinação.


Vi o piloto no chão, de bruços, imóvel. Havia um médico em pé olhando
o cara desfalecido….e por esse médico não estar abaixado ao lado, e sim
em pé, pensei: o cara tá morto!!! Mas não… depois fiquei sabendo que
quando ele bateu nas pedras a moto veio e acertou sua espinha. Parece
que ele ficou com traumatismo na 4° vértebra, coisa bem feia.


A organização resolveu diminuir as especiais por medida de segurança,
pois os pilotos estavam endiabrados, parecia que todos queriam vencer a
prova. Nessa etapa, mais uma vez fui o ator principal de uma cena
cômica.Vinha em uma estrada de cascalho e me perdi em uma curva indo de
encontro a um barranco. A moto ficou no barranco e eu voei em direção a
uma cerca de arame farpado!


O engraçado foi que fiquei preso como uma mosca em uma teia de aranha
nessa cerca, e ainda pendurado de cabeça para baixo! Perdi uns minutos
ali até conseguir me livrar daquela cerca… foi uma cena bem ridícula,
hehehehe…


Quando você fica sabendo nos bastidores da prova que teve piloto de
carro que gastou mais de R$150.000,00 para correr e piloto de moto que
gastou algo em torno de R$10.000,00 a R$20.000,00 entre moto, peças,
inscrição e apoio mecânico, você fica simplesmente se achando ridículo!
Cheguei a me humilhar para conseguir arrecadar R$2.700,00 incluindo a
venda das camisetas para simplesmente poder largar, sem apoio, sem
mecânico, sem nada, apenas eu minha moto, um pouco de braço e fé em
Deus!!!


Teve um deslocamento nessa etapa que realmente era para destruir os
pilotos mesmo. Era para ser uma etapa especial que acabou cancelada, mas
mesmo como deslocamento foi de matar. Passei por um PC (posto de
controle) e o cara da organização falou assim para mim: “cara , como
você conseguiu chegar até aqui com essa moto? Você realmente merecia
ganhar um troféu de “macho” porque eu com essa aqui (uma RMX 250 leve)
já me ferrei, imagine você o que não passou lá atrás…” Essas observações
te deixavam de moral alto, aí que você encontrava forças para
continuar.


Petrolina (720 km) foi uma etapa de muito areão e muito calor. Teve
piloto que ficou com moto e tudo em um rio um pouco fundo demais.
Consegui chegar ao final da etapa com apenas 1 minuto de atraso!


Nessa etapa, se não me engano, havia um tremendo retão com saltos.
Dava para meter o pau na Ténéré sem dó porque não havia curvas, somente
areão e rampas. Não sei o que deu em mim, mas andei tudo o que podia
nessa especial de velocidade. Estava endiabrado, banquei o imprudente
mesmo, acelerei sem dó.





O perigo nessa etapa eram alguns troncos no caminho que podiam te
ferrar. Estava andando muito bem e vi a poeira de um piloto na minha
frente. Comecei a acelerar forte para poder chegar perto e ao menos
emparelhar para me livrar da poeira que te deixa completamente cego. É
um momento muito perigoso quando você alcança outro piloto em uma
estrada de pó. São segundos em que você fica cego e na dúvida se acelera
e tenta passar ou diminui para poder voltar a enxergar


Só sei que o cara levou um susto quando viu o trator passando por
ele… e aí perceber que o cidadão era o JORDI ARCARONS! O espanhol que
cansou de subir no pódio do Dakar!!! Se que ele deve ter tido algum
problema ou se perdeu, mas o bom de ser um aventureiro é isso: você não
tem obrigação nenhuma com nada, e com um pouco de sorte ainda tira uma
casquinha dos campeões, kkkkkkkkkkkk…


Acho que essa foi a minha melhor especial de velocidade nesses dois
Sertões, em termos de pilotagem. Eu realmente iria ganhar posições na
classificação geral se não fosse o último quilômetro dela. No último
quilômetro… eu me perdi! Imagine você chegar no final da especial e ver a
bandeira de chegada, mas só que do lado errado! É …do lado contrário
mesmo!!!. Hahahahaa…


Eu e mais uns oito pilotos erramos, pelo que eu contei , inclusive o
hómi também errou! Foi aquela zoeira… só moto fazendo o retorno e vendo
as outras na contramão. Perigosíssimo! E teve trombada feia nessa
especial Fiquei perdido dentro dela por 31 minutos! Vou tentar explicar:


Imagine que eu fiz a especial em 58 minutos. Seria o tempo normal, só
que como me perdi e até encontrar a passagem correta para chegar na
bandeira demorei 31 minutos, então ssoma 58 minutos + 31 minutos em que
eu estava com o cronômetro disparado contando o tempo dentro da
especial. Temos aí então 1h29min de tempo e não apenas os 58 minutos


Depois teve um deslocamento em que fiz os 300 km mais rápidos da
minha vida para tentar chegar no meu horário ideal. A navegação e minha
estratégia de se manter constante na prova estava dando resultado.
Muitos pilotos estouraram o tempo para chegar ao acampamento e foram
penalizados. O grande perigo dessa etapa foi que quase atropelei uma
vaca a 130 km por hora!


Em Petrolina, encontrei com o Ernesto novamente, e fiquei muito
contente em ver que ele não havia desistido. Ernesto teve problemas com a
corrente de sua Suzuki DR650, e até esperar o carro vassoura perdeu
muito tempo para conseguir consertar a moto. A roda da moto do Ernesto
estava quadrada.


Teve um lugar nessa etapa em que sentei ao lado de uma parede – era
uma casa de barro no meio do nada – aguardando o meu horário e comecei a
comer uma paçoca de amendoim. Então o Jordi Arcarons (de novo ele!)
veio e em espanhol me pediu um pedaço, kkkkkkkkkkk… lembro que ainda
falei a ele que dividiria se ele me desse um autógrafo no final do
Rally. Ele me perguntou se eu tinha vontade de participar do Dakar
devido a estar correndo com um Ténéré, hahahahaha…


O problema de você não ter um certo apoio mecânico em um Rally é que
você termina uma etapa (geralmente a noite) e tem que se virar na
manutenção da moto, procurar sua caixa de ferramentas que está perdida
em algum lugar no caminhão da organização. Se sobrar tempo, come alguma
coisa, estuda a planilha do próximo dia e confere sua classificação do
dia. Quando percebe, são 2 horas da manhã e você precisa acordar entre 4
e 5 horas para largar.


Esse é um dos fatores em que você tem uma leve noção do que seria um
Dakar. É meio complicado esse negócio de você ser piloto, mecânico e
chefe de equipe ao mesmo tempo, e se não tiver um mínimo de peças de
reposição, a coisa fica ainda mais complicada . Isso acaba influenciando
na própria pilotagem, psicologicamente falando. Você vai ter que POUPAR
o equipamento a qualquer preço, não vai poder andar 100% de sua
capacidade para não destruir muita coisa.


Em cada tombo que levava, ficava pensando “pô, vou ter que arrumar
isso aqui quando chegar em casa” (chegar em casa? Sim, só quando chegar
em casa e o Rally tiver terminado). Quem tinha apoio mecânico, tinha sua
moto reconstruída para o dia seguinte. Tinha piloto que via seu “motor
ser feito” todas as noites, inclusive com pneus novos todo os dias de
largada. Eu levei um pneu dianteiro e dois traseiros, e só…


Em Petrolina, de noite, teve uma exibição dos pilotos em circuito
fechado para o público assistir.Quando chegou a minha vez de dar a volta
no circuito, o pessoal da organização anunciou no microfone: “agora
vocês verão a volta do motoboy!” Bastou isso para um monte de gente vir
pedir autógrafos (risos). Muita gente já tinha ouvido falar de mim. Uns
minutinhos de fama não fazem mal a ninguém…


Antes, durante o dia, fui na pista de lama onde teria a apresentação
noturna dos pilotos. Fui lá fazer um reconhecimento da pista. Tinha um
pessoal do Rally, de repente percebo o ANDRÉ AZEVEDO olhando a minha
Ténéré! Quando eu cheguei perto, ele veio falar comigo. “É sua essa
Ténéré?” Respondi que sim, então ele me disse que foi com aquela moto
que fez seus primeiros Paris Dakar. Respondi que já sabia da história
porque li o seu livro e era fã dele, e que ele foi uma inspiração para
eu estar ali, kkkkkkkkkkkk…


O André era uma cara super simples, não era estrela não, me tratou super bem!!!





O Rally seguia, e um dos grandes problemas era se livrar das mulheres
que queriam um piloto para elas. Ô problemão, kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk…


De Petrolina, seguimos para Garanhuns, uma etapa relativamente
tranquila. A essa altura, o grande perigo é você pegar algum
deslocamento no asfalto, pois o sono começa a bater pra valer. Quando se
está num deslocamento de terra, sua atenção é maior e você não relaxa
na pilotagem. Em 96 e 97 fiquei sabendo de pilotos que dormiram em cima
da moto!


Eu já estava administrando minha classificação na categoria Motos
Maratona, mais ou menos pelo 9º lugar. Se terminasse assim, pegaria um
troféu. Mas não satisfeito com a posição, comecei a ver qual era o
piloto que estava na minha frente na classificação para olhar bem p/ ele
e saber se conseguiria ultrapassá-lo, somava quantos minutos estava
atrás dele para saber o quanto teria que ser mais rápido, jogava zóio
gordo nele para quebrar, hehehehe…


O episódio curioso foi que tinha uma equipe que estava recebendo
apoio da tal marca de óleo sintético, a mesma que eu estava usando.
Precisava de menos de meio litro desse óleo para completar o nível da
minha moto. Fui até essa equipe e pedi para “comprar” um pouco desse
óleo e por mais incrível que pareça, o chefe dessa equipe me negou dando
uma desculpa esfarrapada.


Não acreditei, antes do Rall tive o desgosto com o representante
desse óleo no Paraná, e agora aqui??? Me deu uma vontade muito grande de
mandar o cara à m*r*a!!!! O mais engraçado era que esse óleo sintético
estava fazendo os discos de embreagem da Téneré patinarem. Após o
conselho de um mecânico de outra equipe, resolvi colocar o velho e bom
óleo mineral mesmo. E após a troca, notei que os discos de embreagem da
moto voltaram ao normal…


Aí pessoal da tal marca de óleo, aquele abraço!


Onze anos depois, as coisas mudam, o pensamento também, a maneira de
ver… MAS CONTINUO QUERENDO QUE você AÍ QUE ME NEGOU ÓLEO VÁ PRA
P………………………………..RIU!!!!!!!!

Final dramático até Natal

Foi uma etapa de apenas 380 km, mas que valeu pelo dobro devido à
chuva e a um percurso muito estressante. Nunca pensei que essa etapa
pudesse acabar com meus nervos, sou um cara calmo, mas ela acabou
comigo. Trajeto cheio de costelas, muitas mesmo, você não conseguia
relaxar 100 metros, e ainda havia chovido: lama o tempo inteiro.


Para piorar, eu não estava EMBUTIDO NA TÉNÉRÉ, não sei o que
aconteceu comigo. Percorria a etapa e xingava a mãe do cara que escolheu
aquele caminho. Quando desci da moto, parecia que ainda estava tremendo
em cima dela! Realmente cheguei a me perguntar umas três vezes O QUE EU
ESTAVA FAZENDO ALI???


Os 400km restantes para o final da prova foram um pouco dramáticos
para mim, pois comecei a ter problemas mecânicos. Meu freio dianteiro
estava travando, meu aparelho de navegação parou de funcionar (me
deixando às cegas) e para piorar meu pedal de câmbio estava espanado,
mal conseguia engatar a segunda marcha.


Ainda tinha a última especial de velocidade pela frente e não queria
perder minha posição na categoria Maratona. Estava na cola do tal cara
que tirou sarro da minha Ténéré. Estava atrás dele coisa de 1 minuto e
20 segundos. A questão era : teria que levar sorte na especial, não me
perder e não deixar o piloto que estava atrás de mim me alcançar, e
tinha que caçar o piloto da frente e ultrapassá-lo a qualquer custo ou
não me chamava… Alfredo? Kkkkkkkkkkkk…


Como meu freio dianteiro estava travando, resolvi anulá-lo de vez.
Agora estava sem freio, sem navegação e com a moto manca (problemas no
câmbio). Larguei na especial andando de ponta cabeça no melhor estilo
cachorro louco, tipo motoboy com a pizza esfriando, seguindo os rastros
dos pilotos de ponta para não me perder.


Era uma especial muito boa para andar rápido e com alguns saltos,
muito gostosa de se fazer. Lembro do veneninho que falei antes da
largada, dando indireta para o piloto na minha frente: “AGORA EU VOU
CAÇAR A LEBRE!!!”. O cara não gostou muito não… Ele sabia que a cada
etapa o meu tempo em relação a ele estava diminuindo.


Teve outra que falei para o Juca Bala, um dos líderes: “É Juca,
acabou a brincadeira, agora eu vou ter que te alcançar”, kkkkkkk… Os
pilotos largavam de 1 em 1 minuto. Então, em um determinado momento já
dentro da especial de velocidade, comecei a ver poeira (sinal de que
estava alcançando outro piloto).


Foi realmente o melhor do meu Rally o momento em que colei no cidadão
e só dei uma olhada pra ele. Lembro até hoje o que eu disse: “OPA…BOA
TARDE!!!”, e sumi! Graças a Deus deu certo! Terminei a especial na
frente de meu adversário e ainda consegui ganhar mais duas posições. De
9° estava em 7° na minha categoria!!!


Na chegada em Natal , ainda tivemos que que atravessar um braço de
Mar onde as ondas chegavam perto do motor. Até choque elétrico eu levei
em cima da moto. Teve uma subida nas dunas em que eu cheguei junto com
um piloto português. Ele olhou para mim com a Ténéré e apenas sinalizou
com a cabeça para eu nem tentar subir por ali.





Entendi aquilo como um conselho e fui pelas pedras mesmo. Levava cada
choque devido a água que batia na moto… A moto do famoso Tuca Porreta
travou ali, no final. Ele ficou com tanta raiva que me ofereceu a KLX
dele para negócio, kkkkkk… Ele queria vender a moto ali mesmo, nas
dunas!


O outro piloto que tirou uma da minha cara no inicio veio até mim e
disse “parabéns cara, você toca pra caramba mesmo essa Ténéré”, e
apertou minha mão!!! Problema resolvido… Mas a do óleo,
nuncaaaaaaaaaa!!!


A chegada foi dentro do horário, e consegui alcançar a final mais uma
vez. Juliano Sacioto venceu nas motos – e eu estava vivo!!!

Conclusão

Consegui a façanha de terminar pela segunda vez o Rally dos Sertões,
sem nenhum apoio mecânico, com a mesma moto e o mesmo motor desde que a
comprei. Levei exatos seus tombos apenas. Conheci o André Azevedo, vi o
Jordi Arcarons do Dakar (ele me deve uma paçoquinha). Das 80 motos que
largaram , consegui me classificar em 31º lugar na geral e 7º lugar na
categoria Maratona. Quando você quer, consegue realizar seus sonhos…


Meus agradecimentos à Prefeitura da Cidade de Colombo, ITA Lustres,
Trial Clube de Curitiba, todas as pessoas que compraram as camisetas e
principalmente à minha companheira de aventura .


Na época eu sabia que merecia credibilidade por ter feito minhas
aventuras e comprovado que era capaz. Tinha também um projeto para o
Atacama e outro para participar novamente do Sertões, com a
possibilidade de arrecadar dinheiro para essas aventuras com a venda
camisetas pela net (não queria lucro, nunca pensei nisso, apenas queria
levantar o capital para os projetos, seria capaz de devolver o
excesso…), mas nessa época fui obrigado a ter a minha visão direcionada
para outras prioridades.


Entre os emails que recebia, teve alguns que me chamaram atenção.
Lembro de dois deles. Um foi de uma pessoa que disse que foi até Goiânia
só para me conhecer, mas que ficou decepcionado quando perguntou para a
organização sobre o motoboy e disseram que ele não estava participando.


O outro foi de um executivo que estava trabalhando na China e que me
disse que eu sem grana consegui fazer o que ele com dinheiro nunca teve
coragem de fazer. Ele queria o numero da minha conta para comprar 30
camisetas e me ajudar a continuar com as aventuras de moto. Eu teria que
doar 10 camisetas para uma instituição de caridade e mandar o restante
para sua família, lá em Natal.


Fiquei entre a cruz e a espada. Queria muito continuar com o meu off-road, mas a vida me obrigou a tomar outros rumos.


Não liguem para os erros… apenas espero ter matado a curiosidade de muitos que sonham com uma grande aventura de moto.


______________________________________________________________


Este relato foi originalmente publicado no fórum do Clube XT600
em outubro de 2008, e republicado aqui no Jalopnik com uma leve edição
de texto.


b][url="http://www.forumxt600.com.br/forum/viewtopic.php?t=9264&postdays=0&c=1&postorder=asc&mode=&poster_id=0&start=225"]Clube XT600[/url][/b

Matéria Retirada do Site Jalopnik,e compartilhada com vcs,pois é muito interessante.

- Yamaha Fazer 250 07 (atual)
- Suzuki Burgman 2008 (atual)
- Honda Twister 05
- Suzuki Yes 08 (muitas viagens)
- Suzuki Burgman 06
- Honda CR250R (Joelhada!)
- Yamaha DT200R 97
- Kawasaki Kdx 250

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18 Set 2011 20:04 #3 por Gui Jungkenn
Muito legal e cheguei ao final do texto querendo mais...valeu por compartilhar, eu não tinha conhecimento desse feito.

Viva para ter o que lembrar, Pois vai chegar o dia em que a sua maior riqueza serão as lembranças.
RD135
NX350

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18 Set 2011 21:20 #4 por rodriguinhow

Honda CBX 250 Twister
Suzuki Intruder 125

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19 Set 2011 05:24 #5 por brurss
Que isso Galera.Achei mtu interessante.Esse cara,merecia patrocinio da Yamaha....só fortaceu a imagem da Ténéré na época.

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19 Set 2011 05:36 #6 por Chicolau

F 700 GS 17/17
NÃO COMPREM PEÇAS USADAS...
São Paulo SP

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19 Set 2011 08:07 #7 por sahnep
Fantástico o relato, o cara é um herói.

Moto: Intruder 125

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19 Set 2011 08:32 #8 por brurss
Chamo isso de força de vontade.

- Yamaha Fazer 250 07 (atual)
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19 Set 2011 09:10 #9 por rodriguinhow
o motoboy participa do fórum?

Honda CBX 250 Twister
Suzuki Intruder 125

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19 Set 2011 10:07 #10 por brurss
Acho que não.Q eu saiba ele participa/participava do Forum XT600

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19 Set 2011 10:50 #11 por rodriguinhow
convidem esse cara pra ca...
:D

Honda CBX 250 Twister
Suzuki Intruder 125

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19 Set 2011 12:48 #12 por dinho.al
Muito bom!

Anderson Henrique
-strada 2001
-titan esd 2008
- cbx twister 205cc 2008
-fazer 250cc 2013
-xj6 2013
Atual: cb 1300 super four 2007

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19 Set 2011 13:45 #13 por MATUSA
Surpreendente!!!!!

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19 Set 2011 17:52 #14 por André RS
Sem comentários...tem caras que fazem façanhas, esse é um deles...

Só faltou explicar melhor aquela noitada na "cidade das mulheres"...

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20 Set 2011 18:35 #15 por dinho.al

André RS escreveu: Sem comentários...tem caras que fazem façanhas, esse é um deles...



Só faltou explicar melhor aquela noitada na "cidade das mulheres"...


Realmente ficou um mistério mesmo, principalmente na hora da mulher com o cigarro!

Anderson Henrique
-strada 2001
-titan esd 2008
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-fazer 250cc 2013
-xj6 2013
Atual: cb 1300 super four 2007

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