Prezados,
o tópico é bem interessante e talvez sirva para redimir algumas dúvidas e quebrar alguns mitos sobre a lubrificação dos motores.
Bem, o debate e a matéria estão interessantes mas não saneiam a maioria das dúvidas. Vou colocar alguns pontos.
1. VISCOSIDADE:
A viscosidade é fator de altíssima relevância na durabilidade do motor pois é o que garantirá a formação de película dinâmica, manutenção de película estática, velocidade de circulação e refrigeração adequados, formação sem excessos de filme na parede do pistão.
É fator bastante afetado pela temperatura ambiente e deve ser ajustado se houver recomendação do fabricante. Deve-se escolher o óleo de acordo com a temperatura média do ambiente. Há locais no mundo em que compensa utilizar óleo diferente no inverno/verão. E outros, deve-se utilizar para garantir performance.
Observe gráfico abaixo:
(copiado do manual da Ducati Monster 695)
É ERRO GRAVE acreditar que óleo mais viscoso é melhor!
Um óleo mais viscoso, se inadequado a um motor pode:
- reduzir sensivelmente a velocidade de circulação, elevando a temperatura do óleo;
- aumentar a temperatura do motor;
- retardar a efetiva lubrificação na partida, aumentando o desgaste;
- erodir, isso mesmo, desgastar componentes do motor.
De outra via, um óleo de baixa viscosidade pode:
- aumentar o consumo, baixar o nível;
- aumentar depósitos de carbono;
- danificar sistema de escape por excesso de partículas/fuligem;
- desgastar o motor por ausência de película lubrificante eficaz;
- reduzir a pressão do circuito de óleo.
2. SEVERIDADE DE USO:
A adequação quanto à severidade de uso é importante pois afeta a durabilidade do óleo, especialmente pela perda de capacidade de ação de alguns aditivos e/ou pela contaminação.
São classificados como usos severos para motores:
- excesso de contaminação no ar (poeira);
- trajetos muito curtos (óleo trabalha frio, contamina com água e combustível);
- trajetos muito lentos/engarrafados, anda e para (muitas horas trabalhadas com baixo deslocamento - vicia o controle por quilometragem então deve ser ajustado);
- em motores refrigerados a ar, aqueles que trabalaham sempre MUITO quentes, como ocorrem em ambiente urbano com trânsito muito pesado/lento e dias quentes, também deve ser considerado condição severa (óleo oxida mais com maior temperatura);
Veja um exemplo de recomendação da Fiat. A indicação NORMAL é troca à cada
15.000 km para o caso abaixo:
(copiado de:
www.fiat.com.br/ja-tenho-um-fiat/servico...idar-do-seu-fiat.jsp
)
3. SINTÉTICO x MINERAL:
Outro mito, óleo sintético é melhor que óleo mineral.
A grande diferença entre o óleo sintético e o mineral é simplesmente a resistência à oxidação.
Normalmente o óleo sintético é indicado para motores que trabalham em altas temperaturas. A maioria das motos mais potentes, que atendam normas EURO3/Promot III por exemplo, recebem indicação de sintético, pois as misturas pobres elevam em muito a temperatura de alguns pontos do motor (pistões, válvulas e anéis).
Em alguns casos são indicados com fins de aumentar intervalos de troca também, pois oxidam menos em condições comparativas com óleos minerais.
Assim, se você opta por trocar para óleo sintético, poderia aumentar o período de trocas (mas não se sabe o quanto...). Para evitar empirismos, siga a recomendação de uso de mineral, pois já certamente é mais barato.
Agora, se é indicado uso de sintético,
jamais , salvo se emergência, utilize óleo mineral.
Se o motivo de o motor utilizar sintético for por conta de temperatura, o óleo mineral não suportará e se oxidará formando borras.
Se usa pouco o veículo, demorando muito para atingir a quilometragem de troca, faça assim:
- óleo mineral (6 meses)
- óleo sintético (um ano).
Se faz trocas por período de tempo é desnecessário ajuste quanto a severidade. Somente é necessário se o veículo ficar parado por longos períodos entre os usos, parado por meses.
4. ESPECIFICAÇÕES DE DESEMPENHO:
Outro aspecto que devemos atentar são as especificações de desempenho.
As especificações típicas de desempenho avaliam a severidade, porém os requisitos são bem distintos, assim não devem ser confundidas e nem desprezadas. As mais adotadas e conhecidas são as API, JASO, CATERPILAR, ISLAC, ACEA, FORD entre outras.
Para o caso das motocicletas, as especificações mais importantes são a API e JASO.
4.1. Especificação API:
A API faz especificação do óleo baseado nas suas características em serviço de acordo com as necessidades dos motores a gasolina. Basicamente está bem explicado no vídeo postado pelo marcus.pedroso na página 2.
Ou seja, a severidade dos graus API (SG,SH,SJ,SL,SM) está associada à capacidade de:
- inibir oxidação;
- inibir corrosão;
- remover depósitos/carbonizados;
- neutralizar ácidos;
- resistir ao calor (não evaporar, não queimar);
- remoção de umidade;
- evitar espuma, diluição de gases;
Como regra básica para escolha:
- no mínimo usar óleo que atenda a recomendação do fabricante;
- se possível utilizar o óleo que tenha MELHOR especificação que a indicada, desde que isso não significa troca da base (mineral -> sintética).
4.2. Especificação JASO:
A JASO avalia o desempenho do óleo de forma similar à API e adiciona especificações quanto à lubrificação da caixa de engrenagens e patinação da embreagem quando em banho de óleo.
A JASO MA exige capacidade de lubrificação de extrema pressão para as caixas de transmissão e a ausência de redutores de atrito para evitar que a embreagem patine.
Desconheço classe API que tenha grande aditivação de agentes de extrema pressão, normalmente é baixa ou inexistente.
TAMBÉM não conheço profundamente a norma JASO pois não encontro muitas informações.
5. CONCLUSÃO:
Concluindo deixo as seguintes recomendações:
- leia o manual do proprietário com atenção, localize, se existirem, as especificações de índices de viscosidade, adaptações de viscosidade x temperatura ambiente, especificações de desempenho, períodos regulares de troca e recomendações para uso severo;
- siga as especificações de viscosidade do fabricante, adaptando a viscosidade à temperatura ambiente média;
- adapte criteriosamente os períodos de troca de acordo com a severidade/uso, caso conclua que faz uso severo reduza o período de trocas de acordo com manual ou o período normal recomendado pela metade;
- no caso do pouco uso em que optar por trocar em período de tempo (meses), caso seu uso seja severo, não afetará o tempo entre as trocas. SALVO se os períodos parados forem muito longos, meses parados, daí sempre é bom reduzir o intervalo de tempo entre as trocas;
- escolha o óleo com especificação API no mínimo recomendada pelo fabricante, podendo livremente usar óleo de categoria superior;
- o desprezo pela recomendação JASO pode comprometer a vida da transmissão por falta de alguns aditivos (porém, do pouco que conheço da referida norma, não avalio como altamente crítico, já que ca
ixas de câmbio costumam durar mais que os veículos);
- o desprezo pela JASO pode levar a um mau funcionamento da embreagem quando banhada à óleo, especialmente em motores potentes em que poderia patinar;
- retirando os aspectos citados acima, o desprezo pelas normas JASO aparentemente não afetará a vida útil do motor em si, pois a mesma adiciona às exigências similares às API especificações de desempenho das transmissões;
- trocar óleo mineral para sintético seria possível, mas para valer a pena teria que analisar o óleo com fins de determinar o incremento no período de trocas possível, como não é viável fazer esse estudo, não troque!
- a troca de mineral para sintético pode ser feita
* se, ao acaso, o fabricante passou a adotar naquele modelo o óleo sintético e tem assim uma base de referência
**;
- a troca de sintético para mineral, é totalmente não recomendada!
* Esse tipo de migração de mineral para sintético NÃO ACHO RECOMENDÁVEL, e normalmente não é vantajosa economicamente, portanto INÚTIL.
Quem desejar o faça por conta e risco!
** acredito ser o caso da Fiat com o motor 1.4/16V. Acho que antes a troca era em 10.000 (com mineral), passaram para sintético com troca em 15.000 km. Nesse caso, quem tem um Fiat com essa motorização, com recomendação de óleo mineral, poderia migrar para o sintético com algum critério
* para trocas.
O assunto é simples, basta a informação correta e o bom senso.
Não há porque complicar e nem inventar!
Aberto a perguntas.
mguerios2012-02-17 21:58:24